O mandato de Donald Trump tem sido marcado por uma longa discussão de se o presidente norte-americano conspirou com o governo russo durante a corrida presidencial de 2016.
As acusações contra ele se baseiam principalmente em um dossiê redigido pelo ex-espião britânico Christopher Steele e em uma investigação feita sobre a atuação das agências de inteligência da Rússia nas redes sociais.
FONTE;https://www.epochtimes.com.br/perigos-guerra-informacao-russav/
25/04/2018
O assunto é tão controverso, que não só causou a polarização da sociedade norte-americana, como também abalou os alicerces da elite do poder dos Estados Unidos. O que ambos os lados nessa luta não perceberam ainda é que essa situação de caos generalizado favorece a Rússia, tanto geopoliticamente, quanto para fins de propaganda no russkiy mir (expressão ambivalente, que se refere a uma fundação criada pelo governo russo, como instrumento de soft power, e à ideia de um mundo russo, uma pretensa civilização que se atomizou com o fim da União Soviética).
Quanto à veracidade da conspiração entre Donald Trump e Vladimir Putin, passado pouco mais de um ano das eleições, os fatos que emergem das investigações feitas pelo Congresso dos Estados Unidos, por alguns veículos de mídia e por acadêmicos indicam que na verdade a Rússia pegou carona em uma campanha de difamação iniciada por parte da elite norte-americana.
Para buscar um ponto de partida de forma a olhar com racionalidade para a questão, podemos ter em mente o seguinte questionamento: se reuniões que integrantes da campanha de Donald Trump realizaram com os russos é evidência de que o atual presidente conspirou com um poder estrangeiro, o que devemos pensar então da reunião entre o PDT e o Partido Comunista Chinês sobre a candidatura de Ciro Gomes?
[...]
Nada do que os russos fizeram em 2016, e muito provavelmente em 2017, é novo. Disseminar informação falsa para direcionar politicamente os rumos dos acontecimentos é prática antiga na nação moscovita.
Suas origens podem ser traçadas à criação da polícia secreta do czar no século XIX, popularmente conhecida por Okhrana. Essa organização trabalhou ativamente em toda a Europa, disseminando desinformação, fazendo agitação política, recrutando agentes e executando operações de assassinato.
De acordo com Amanda Ward, mestra pela Universidade de Ohio, a Inteligência da União Soviética foi herdeira e sucessora da Okhrana. De acordo com o seu estudo, foi a polícia secreta do czar quem inovou na área de inteligência, tendo a Vcheka, a primeira polícia secreta soviética, aperfeiçoado o sistema e elevando-o a níveis de brutalidade que superaram a já brutal monarquia russa.
O atual sistema de inteligência russo, composto por um punhado de agências com atribuições muitas vezes concorrentes, é herdeiro do sistema monolítico soviético. Portanto bebe de uma tradição que remonta a mais de um século de experiência. E foi todo esse conhecimento acumulado que se derramou sobre a eleição norte-americana.
[...]
Talvez o ponto crucial das operações ativas de desinformação seja o tipo de mensagem passada adiante. Ao contrário da indústria do entretenimento, que se utiliza das melhores técnicas de publicidade e propaganda para criar e guiar os interesses do grande público, as agências de inteligência russa muitas vezes trabalham em cima de opiniões existentes.
Nesse tipo de operação ativa, os russos dizem exatamente aquilo que você quer ouvir. Por exemplo, se você acha que existe perseguição política, eles colocarão seus agentes de influência para repetir exaustivamente essa afirmação, causando uma impressão que confirma suas suspeitas. Mas se o que o preocupa são os negócios escusos que algum político possui, eles apresentarão uma gravação que, apesar de não provar nada, sugere que a sua preocupação é verdadeira.
[...]
Um dos nossos erros ao lidar com a Rússia é achar que, após a queda da União Soviética, Moscou tornou-se uma democracia da maneira que entendemos no Ocidente. Sim, eles possuem eleições e tripartição dos poderes, mas as eleições não são livres. Na realidade, o Kremlin nunca abandonou suas práticas autocráticas.
[...]
Como Peter Pomerantsev nos mostra em seu artigo sobre Vladislav Surkov: a democracia gerenciada russa é o sistema político onde a retórica democrática se encontra com a intenção autoritária.
Vladislav Surkov é uma das pedras angulares do putinismo. Sua biografia é um pouco obscura, tendo ele, ao longo do tempo, dado informações contraditórias sobre seus pais e sua infância. De qualquer forma, sabemos que, ao final da década de 1980, ele chefiou o departamento de propaganda do banco do milionário russo Mikhail Khodorkovsky.
A partir de 1999, tornou-se o responsável pelas relações públicas do governo russo, assumindo o cargo de Vice Chefe do Gabinete da Administração Presidencial Russa. Para Mark Galeotti, em seu artigo sobre a guerra política de Moscou na Europa, a Administração Presidencial provavelmente é o órgão mais importante do governo moscovita.
Desde então, Vladislav Surkov é um dos principais engenheiros políticos (political technologist) da Rússia, ajudando a manter a autocracia putinista no poder.
[...]
O que os engenheiros políticos russos fazem é se utilizar dos meios de comunicação de massa e de técnicas de engenharia social para vender uma realidade inexistente para a população. O objetivo: entretenimento das massas, para dar legitimidade às políticas governamentais.
Nesse ritual macabro de conjuração de falsas verdades, os engenheiros políticos do Kremlin financiam movimentos de arte, ao mesmo tempo em que incentivam manifestações contra a arte contemporânea; organizam encontros de movimentos separatistas, ao mesmo tempo em que sufocam as mesmas pretensões em seu território. Tudo se tornou relações-públicas. A verdade é irrelevante.
[...]
Se o objetivo da campanha contra Donald Trump era o de proteger os Estados Unidos da Rússia, os adversários do bilionário acabaram por entregar as chaves do portão ao Kremlin. Para Mark Galeotti, foi a crença no Dossiê Trump, montado a pedido da campanha democrata, que deu tanta força ao esforço russo.
[...]
Sob essa luz é que entendemos o porquê de os acontecimentos ligados às eleições de 2016 nos Estados Unidos serem tão preocupantes para a população daquele país: de acordo com os pesquisadores, a mentalidade conspiratória parece advir da baixa confiança nas instituições públicas e na qualidade da democracia, ligadas a um cenário de mudança cultural, política e econômica.
Pegando carona no Dossiê Trump, os russos conseguiram abalar a confiança nas instituições e na democracia norte-americana, tanto entre os apoiadores do atual presidente, quanto entre aqueles que preferem vê-lo fora da Casa Branca.
E a conclusão desse raciocínio é simples: a campanha de desinformação russa de 2016, ao disseminar a descrença nas instituições, aumentou a propensão dos norte-americanos a serem vitimados pela próxima campanha de desinformação. Os engenheiros políticos em Moscou devem estar em júbilo.
O assunto é tão controverso, que não só causou a polarização da sociedade norte-americana, como também abalou os alicerces da elite do poder dos Estados Unidos. O que ambos os lados nessa luta não perceberam ainda é que essa situação de caos generalizado favorece a Rússia, tanto geopoliticamente, quanto para fins de propaganda no russkiy mir (expressão ambivalente, que se refere a uma fundação criada pelo governo russo, como instrumento de soft power, e à ideia de um mundo russo, uma pretensa civilização que se atomizou com o fim da União Soviética).
Quanto à veracidade da conspiração entre Donald Trump e Vladimir Putin, passado pouco mais de um ano das eleições, os fatos que emergem das investigações feitas pelo Congresso dos Estados Unidos, por alguns veículos de mídia e por acadêmicos indicam que na verdade a Rússia pegou carona em uma campanha de difamação iniciada por parte da elite norte-americana.
Para buscar um ponto de partida de forma a olhar com racionalidade para a questão, podemos ter em mente o seguinte questionamento: se reuniões que integrantes da campanha de Donald Trump realizaram com os russos é evidência de que o atual presidente conspirou com um poder estrangeiro, o que devemos pensar então da reunião entre o PDT e o Partido Comunista Chinês sobre a candidatura de Ciro Gomes?
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Nada do que os russos fizeram em 2016, e muito provavelmente em 2017, é novo. Disseminar informação falsa para direcionar politicamente os rumos dos acontecimentos é prática antiga na nação moscovita.
Suas origens podem ser traçadas à criação da polícia secreta do czar no século XIX, popularmente conhecida por Okhrana. Essa organização trabalhou ativamente em toda a Europa, disseminando desinformação, fazendo agitação política, recrutando agentes e executando operações de assassinato.
De acordo com Amanda Ward, mestra pela Universidade de Ohio, a Inteligência da União Soviética foi herdeira e sucessora da Okhrana. De acordo com o seu estudo, foi a polícia secreta do czar quem inovou na área de inteligência, tendo a Vcheka, a primeira polícia secreta soviética, aperfeiçoado o sistema e elevando-o a níveis de brutalidade que superaram a já brutal monarquia russa.
O atual sistema de inteligência russo, composto por um punhado de agências com atribuições muitas vezes concorrentes, é herdeiro do sistema monolítico soviético. Portanto bebe de uma tradição que remonta a mais de um século de experiência. E foi todo esse conhecimento acumulado que se derramou sobre a eleição norte-americana.
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Talvez o ponto crucial das operações ativas de desinformação seja o tipo de mensagem passada adiante. Ao contrário da indústria do entretenimento, que se utiliza das melhores técnicas de publicidade e propaganda para criar e guiar os interesses do grande público, as agências de inteligência russa muitas vezes trabalham em cima de opiniões existentes.
Nesse tipo de operação ativa, os russos dizem exatamente aquilo que você quer ouvir. Por exemplo, se você acha que existe perseguição política, eles colocarão seus agentes de influência para repetir exaustivamente essa afirmação, causando uma impressão que confirma suas suspeitas. Mas se o que o preocupa são os negócios escusos que algum político possui, eles apresentarão uma gravação que, apesar de não provar nada, sugere que a sua preocupação é verdadeira.
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Um dos nossos erros ao lidar com a Rússia é achar que, após a queda da União Soviética, Moscou tornou-se uma democracia da maneira que entendemos no Ocidente. Sim, eles possuem eleições e tripartição dos poderes, mas as eleições não são livres. Na realidade, o Kremlin nunca abandonou suas práticas autocráticas.
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Como Peter Pomerantsev nos mostra em seu artigo sobre Vladislav Surkov: a democracia gerenciada russa é o sistema político onde a retórica democrática se encontra com a intenção autoritária.
Vladislav Surkov é uma das pedras angulares do putinismo. Sua biografia é um pouco obscura, tendo ele, ao longo do tempo, dado informações contraditórias sobre seus pais e sua infância. De qualquer forma, sabemos que, ao final da década de 1980, ele chefiou o departamento de propaganda do banco do milionário russo Mikhail Khodorkovsky.
A partir de 1999, tornou-se o responsável pelas relações públicas do governo russo, assumindo o cargo de Vice Chefe do Gabinete da Administração Presidencial Russa. Para Mark Galeotti, em seu artigo sobre a guerra política de Moscou na Europa, a Administração Presidencial provavelmente é o órgão mais importante do governo moscovita.
Desde então, Vladislav Surkov é um dos principais engenheiros políticos (political technologist) da Rússia, ajudando a manter a autocracia putinista no poder.
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O que os engenheiros políticos russos fazem é se utilizar dos meios de comunicação de massa e de técnicas de engenharia social para vender uma realidade inexistente para a população. O objetivo: entretenimento das massas, para dar legitimidade às políticas governamentais.
Nesse ritual macabro de conjuração de falsas verdades, os engenheiros políticos do Kremlin financiam movimentos de arte, ao mesmo tempo em que incentivam manifestações contra a arte contemporânea; organizam encontros de movimentos separatistas, ao mesmo tempo em que sufocam as mesmas pretensões em seu território. Tudo se tornou relações-públicas. A verdade é irrelevante.
[...]
Se o objetivo da campanha contra Donald Trump era o de proteger os Estados Unidos da Rússia, os adversários do bilionário acabaram por entregar as chaves do portão ao Kremlin. Para Mark Galeotti, foi a crença no Dossiê Trump, montado a pedido da campanha democrata, que deu tanta força ao esforço russo.
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Sob essa luz é que entendemos o porquê de os acontecimentos ligados às eleições de 2016 nos Estados Unidos serem tão preocupantes para a população daquele país: de acordo com os pesquisadores, a mentalidade conspiratória parece advir da baixa confiança nas instituições públicas e na qualidade da democracia, ligadas a um cenário de mudança cultural, política e econômica.
Pegando carona no Dossiê Trump, os russos conseguiram abalar a confiança nas instituições e na democracia norte-americana, tanto entre os apoiadores do atual presidente, quanto entre aqueles que preferem vê-lo fora da Casa Branca.
E a conclusão desse raciocínio é simples: a campanha de desinformação russa de 2016, ao disseminar a descrença nas instituições, aumentou a propensão dos norte-americanos a serem vitimados pela próxima campanha de desinformação. Os engenheiros políticos em Moscou devem estar em júbilo.
FONTE;https://www.epochtimes.com.br/perigos-guerra-informacao-russav/
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