Presidente da Arena em visita ao museu do Comando Militar do Sul, em Porto Alegre (Foto: Arquivo Pessoal)
Extinta há mais de 30 anos com o fim do bipartidarismo no Brasil, a
Aliança Renovadora Nacional (Arena) pode voltar à ativa nas mãos de
jovens e com uma cara "nova". O estatuto e o programa do novo partido
foram publicados no Diário Oficial da União na última terça-feira (13),
cumprindo um dos passos burocráticos para o registro da legenda.
A Arena foi fundada originalmente em abril de 1966 dentro do sistema de
bipartidarismo imposto pelo regime, que extinguiu outros 13 partidos
que existiam antes. Enquanto a Arena sustentava o governo militar, fazia
oposição no Congresso o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
O partido elegeu todos os presidentes que se candidataram pela legenda,
de Costa e Silva (1967-1969) a João Figueiredo (1979-1985). Foi extinto
junto com o MDB em novembro de 1979, no processo de redemocratização
que permitiu a abertura de novos partidos. Do MDB surgiu o PMDB; os
remanescentes da Arena foram o antigo PDS (atual PP) e a Frente Liberal
(atualmente DEM).
Nos anos 70, enquanto os militares estiveram no poder, o país viveu o
chamado "milagre econômico", com altas taxas de crescimento econômico.
No âmbito político, o período foi marcado por perseguição aos opositores
do regime, com a violação de direitos humanos e políticos e a adoção de
práticas como censura prévia da imprensa, tortura e assassinatos.
Politicamente, a direita brasileira
é um horror. Não existe. Tem vergonha de se assumir"
Cibele Baginski, presidente da nova Arena
Para fugir da repressão do Estado, políticos, militantes, artistas e
pessoas de vários outros setores da sociedade buscaram exílio em outros
países. Estima-se que mais de 420 pessoas foram assassinadas ou dadas
como desaparecidas durante o período de exceção. Em maio deste ano,
foi instalada a Comissão da Verdade, com o objetivo de apurar os crimes cometidos no período.
Valores e ideologia
Segundo sua idealizadora, a estudante de Direito Cibele Bumbel
Baginski, 23 anos, a nova Arena rechaça a possibilidade de atrair grupos
extremistas, com tendências fascistas ou neonazistas, por exemplo. Ela
conta que o grupo já teve de aturar alguns tipos com "propostas
absurdas", mas que, aos poucos, acabaram se afastando.
"Não viemos flertar com o totalitarismo. Nosso partido não é uma seita.
Quem não tem capacidade de dialogar, pode pegar a mala e ir embora.
Somos a direita democrática", garante.
O grupo de 144 pessoas, espalhados por 15 estados do país, diz querer
promover o retorno da "verdadeira direita" ao cenário político
brasileiro. A nova Arena defende o resgate de valores que consideram
esquecidos, como o conservadorismo e o nacionalismo, um partido que
defenda o Estado "necessário" e o direto à propriedade, por exemplo.
No programa da nova Arena, constam propostas como a privatização do
sistema penitenciário; a abolição de qualquer sistema de cotas raciais,
de gênero, ou condições "especiais"; a aprovação da maioridade penal aos
16 anos; o retorno ao currículo escolar de disciplinas como moral e
cívica e latim; a retomada do controle de estatais fundamentais à
proteção da nação; e o reaparelhamento das Forças Armadas.
Estudante na Universidade de Caxias do Sul (UCS), sediada no município
de mesmo nome, é Cibele Bumbel Baginski quem assina como presidente
provisória do partido o estatuto e o programa da nova Arena.
"Queremos implementar mudanças na sociedade de forma gradual, ordeira e
com estabilidade. Propomos um jeito de fazer política com convicção,
com propostas e focado na resolução dos problemas dos país. As pessoas
querem solução e não discussão", argumenta.
O objetivo é erguer um partido assumidamente de direita. Para os
neo-arenistas, há um espaço que precisa ser preenchido entre as 30
legendas atualmente existentes. "Politicamente, a direita brasileira é
um horror. Não existe. Tem vergonha de se assumir. É a única direita que
se vende para a esquerda", opina Cibele.
De acordo com o estatuto, a nova Arena "não coligará com partidos que
declaram em seu programa e estatuto a defesa do comunismo, bem como
vertentes marxistas". Caberá a um órgão chamado de Conselho Ideológico,
entre outras tarefas, aprovar as correntes e tendências que venham a se
formar internamente, além de "fiscalizar, e se necessário intervir, em
todos os órgãos do partido". Esse conselho, a instância máxima, será
formado formado por nove pessoas, das quais cinco serão membros
permanentes e vitalícios.
Não vamos flertar com o totalitarismo. Nosso partido não é uma seita. É direita democrática"
Cibele Baginski
Mobilização
A publicação no Diário Oficial é uma das etapas para a criação do
partido. Após a sigla adquirir personalidade jurídica, os fundadores
irão pleitear o registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Para isso, devem reunir 491 mil assinaturas de eleitores (0,5% dos votos
válidos na última eleição para a Câmara dos Deputados) de pelo menos
nove estados (um terço do total) – o grupo já tem de 40 a 50 mil, diz
Cibele.
"A partir de agora é que vamos mobilizar nossos núcleos regionais para
essa tarefa. Acredito que até meados de 2013 isso esteja pronto, e o
partido apto a concorrer nas eleições de 2014", planeja Cibele.
Natural de Porto Alegre, a estudante reside em Caxias do Sul há cerca
de quatro anos. O gosto pela política, diz ela, vem dos pais, um casal
de comerciantes. A ideia de fundar uma legenda nova surgiu a partir de
discussões entre colegas universitários e amigos sobre o modelo de
partido ideal. Os debates se espalharam pela internet e encontraram
adeptos em outros estados. Em junho, o grupo decidiu levar a proposta
adiante e deu início aos trâmites burocráticos.
A proposta inicial não era ressuscitar a extinta Arena – o nome só foi
escolhido depois, em votação, por sugestão de outra fundadora. A
presidente da nova Arena não teme críticas pelo fato de o nome do
partido estar associado à ditadura militar. Ela argumenta que o partido
atuava dentro das leis da época e que os crimes cometidos durante o
regime de exceção partiram das pessoas que controlavam o Estado e as
instituições, não do partido.
"Não acho que seja algo ruim. É algo que ou você gosta ou você não
gosta", diz Cibele, que cita o desenvolvimento econômico durante o
período do regime militar como saldo positivo. "O país estava precisando
de uma sacudida. Sem isso [o regime militar], o Brasil não seria o que é
hoje", defende.
Autora de um livro de contos de publicação independente, que assina
como Lady Baginski, a jovem que exibe um piercing nos lábios foge do
estereótipo de conservadora. Ela conta que, por suas convicções
políticas, já sofreu agressões verbais públicas no meio universitário,
que considera “doutrinado” pelo pensamento marxista. Diz que cultiva
amizades e consegue dialogar com pessoas de ideologias opostas.
O que era
Segundo o verbete do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro,
organizado pelo CPDOC/FGV, a Arena foi um "partido político de âmbito
nacional, de apoio ao governo, fundado em 4 de abril de 1966 dentro do
sistema de bipartidarismo instaurado no país após a edição do Ato
Institucional nº 2 (27/10/1965), que extinguiu os partidos existentes, e
do Ato Complementar nº 4, que estabeleceu as condições para a formação
de novos partidos. Desapareceu em 29 de novembro de 1979, quando o
Congresso decretou o fim do bipartidarismo e abriu espaço para a
reorganização de um novo sistema multipartidário".
O que será
De acordo com o estatuto publicado no Diário Oficial da União, a nova
Arena é um partido que "possui como ideologia o conservadorismo,
nacionalismo e tecno-progressismo, tendo para todos os efeitos a posição
de direita no espectro político; devendo as correntes e tendências
ideológicas ser aprovadas pelo Conselho Ideológico (CI), visando a
coerência com as diretrizes partidárias. A Arena, em respeito à
convicções ideológicas de Direita, não coligará com partidos que
declaram em seu programa eestatuto a defesa do comunismo, bem como
vertentes marxistas".
O que defendem os novos arenistas
- Privatização do Sistema Penitenciário.
- Abolição de quaisquer sistemas de cotas raciais, de gênero, ou condições "especiais".
- Aprovação da maioridade penal aos 16 anos.
- Retorno ao currículo escolar das disciplinas de Educação Moral e Cívica e Latim.
- Ensino da História do Brasil e História Geral sem ênfases
tendenciosas doutrinariamente e com abrangência de todos os continentes,
e não somente alguns.
- Defender o Estado Necessário
- Retomar o controle de todas as empresas estatais que são fundamentais à proteção da Nação.
- Reaparelhar as Forças Armadas, tirando-a de seu sucateamento e parco efetivo.
fonte;g1