O
Sistema Cantareira completa hoje oito meses consecutivos recebendo um
volume de água pior do que a mínima histórica. Desde janeiro, quando a
crise de estiagem no maior manancial paulista foi declarada, as represas
têm quebrado mensalmente recordes negativos de seca em 84 anos de
medições. O cenário fez que somente em agosto o Cantareira perdesse 43,3
bilhões de litros, ou 4,4% de sua capacidade.
O déficit é
resultado de uma conta que não fecha desde maio de 2013, quando o
sistema passou a liberar mais água do que recebeu. Neste mês, enquanto
cedeu 22,49 mil litros por segundo para abastecer cerca de 6,5 milhões
de pessoas na Grande São Paulo e 5 milhões na região de Campinas, o
sistema recebeu 6,32 mil litros por segundo de água da chuva ou de seus
rios afluentes. Até então, o pior agosto desde 1930 havia registrado uma
vazão afluente de 10,7 mil litros por segundo.
Embora a situação
só tenha se agravado neste mês, no qual o nível do Cantareira caiu de
15,3% da capacidade no dia 1.º para 11,1% ontem, os números mostram uma
ligeira melhora em relação a julho, que foi o mês mais seco da história
do manancial, com entrada de apenas 4,17 mil litros por segundo. No fim,
o déficit de água no mês passado foi de 50 bilhões de litros.
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Até
sexta-feira, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
(Sabesp) já havia retirado 93,5 bilhões de litros do volume morto do
manancial, ou seja, mais da metade dos 182,5 bilhões da primeira cota da
reserva profunda das represas Jaguari-Jacareí, na região de Bragança
Paulista, e Atibainha, em Nazaré Paulista.
Cálculos feitos por
especialistas que monitoram a crise apontam que a reserva deve acabar no
início de novembro. Diante desse cenário, a Sabesp iniciou na semana
passada as obras para poder retirar mais 106 bilhões de litros do volume
morto do manancial, o que ainda precisa ser aprovado pela Agência
Nacional das Águas (ANA) e Departamento de Águas e Energia Elétrica de
São Paulo (DAEE), órgãos gestores do sistema.
Segundo a Sabesp, o
volume disponível hoje nas represas é suficiente para garantir o
abastecimento da Grande São Paulo até março sem adoção de racionamento
oficial de água. Apenas na compra das bombas flutuantes e na manutenção
de um canal para que a água que resta nas represas chegue até o túnel de
captação, a Sabesp vai gastar mais de R$ 13 milhões.
Recuperação
Historicamente,
o volume de água que costuma chegar ao manancial sobe ligeiramente em
setembro e só tem salto a partir de outubro, quando começa a temporada
de chuvas. Para este verão, contudo, as previsões ainda apontam um
cenário incerto, com uma probabilidade maior de chuva abaixo da média
histórica.
Com o uso da segunda cota do volume morto, o Cantareira
pode entrar em 2015 negativo em quase 30% e as estimativas da própria
Sabesp indicam que o manancial leve ao menos três anos para se
recuperar.
(
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.)