Seja bem-vindo. Hoje é

A Guerra Do Iraque Não Acabou e o Terror Encontrou uma Nova Casa




A guerra do Iraque não acabou e o terror encontrou uma nova casa

Obama - e Cameron - podem gostar de sair da guerra contra o terrorismo, mas o outro lado não entende isso como uma possibilidade de paz.

Há sete semanas, Barack Obama anunciou que “é chegada a hora de virar a página de mais de uma década de guerra”. O povo iraquiano não tem essa opção. Eles viram em Basra as milícias apoiadas pelo Irã tomarem a frente e derrotarem o exército britânico.

16/06/2014

 Eles viram militantes da jihad altamente eficientes (os quais a al-Qaeda rejeita por considerar brutais) assumirem o controle de uma cidade importante, Fallujah, que está a apenas 60 quilômetros de Bagdá. Nessa semana eles viram a sua segunda maior cidade, Mosul, cair nas mãos dos mesmos psicopatas. Se a Síria já não é flor que se cheire, limpeza religiosa, decapitações e até mesmo crucificações estão para começar.

Uma nova guerra do Iraque está sendo montada. De um lado está o primeiro ministro iraquiano Nouri al-Maliki, do outro está uma ramificação da al-Qaeda chamada Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) que deseja criar um emirado islâmico na fronteira entre o Iraque e a Síria. Esse grupo tem se mostrado altamente bem sucedido, tendo criado um estado de fato, hoje com duas cidades e uma extensão territorial significativa. Toda essa área controlada pelo ISIS se tornou um porto seguro para os militantes da jihad que foram expulsos do Paquistão. O terror encontrou uma nova casa.

Pouco se escuta sobre isso entre os britânicos, pois esse é um problema que ninguém está disposto a resolver. Internamente, o Ministério para Assuntos Exteriores trabalha com a hipótese de que o ISIS irá manter o território que hoje ocupa, ao menos nos próximos anos. Em Washington, membros do governo não estão considerando a conquista de Mosul como capaz de causar uma reviravolta importante. Não há vontade de se envolver em outra guerra, nem mesmo de dar ao exército iraquiano o suporte aéreo necessário para a retomada dessa cidade. A política extra-oficial consiste em deixar o ISIS formar seu novo país e seguir falando que o Iraque está em um caminho difícil rumo a democracia.

A queda de Mosul é uma catástrofe que revela muito sobre os rumos na região. As fronteiras estão sendo desfeitas pois grupos como o ISIS tornam as diferenças entre países sem importância. Da mesma forma como as fronteiras entre o Afeganistão e o Paquistão eram irrelevantes para os militantes, hoje são as fronteiras entre a Síria e o Iraque que assim se tornaram. É impossível falar sobre um país sem discutir o outro.

Barack Obama costumava se vangloriar que a al-Qaeda estava se desfazendo, com suas lideranças decapitadas e enxotadas do Ocidente. Muito disso era verdade, mas agora fica claro que americanos e britânicos estavam caçando sombras: tão logo um inimigo é desmantelado, outro surge. O ISIS não é uma nova manifestação, é a personificação do terror que americanos e seus aliados deveriam estar em guerra desde o 11 de setembro.

Caso o exército iraquiano não consiga expulsar o ISIS de Mosul, então saberemos o que esperar. Quando a bandeira preta é hasteada nos prédios públicos (como estava sendo na manhã da última quarta-feira) o reinado do terror começa. Os cristãos que sobraram nessa cidade, que se juntam em torno da catedral Católica Caldeia, serão isolados. Há uns meses atrás, na cidade de Raqqa, no norte da Síria, cristãos foram obrigados a se “registrar" junto aos membros da ISIS em virtude de uma lei antiga chamada contrato dhimmi. De acordo com essa lei, os cristãos devem optar entre pagar uma taxa e receber tratamento de cidadãos de terceira classe ou encarar o fio da espada. É por isso que os cristãos de Mosul, para sobreviverem, estão correndo para a fronteira curda.

Mesmo lá eles podem não estar seguros por muito tempo. Os territórios curdos ao norte agora estão se tornando vulneráveis ao ISIS, particularmente Erbil (que fica a cerca de uma hora de Mosul). Será especialmente trágico se Erbil cair nas mãos do ISIS, uma vez que essa cidade tem sido em boa parte um refúgio de paz desde 2003. A experiência dos curdos ao norte foi um sucesso para a economia, para os investimentos e em questões de segurança. Porém, os curdos que conseguiram sobreviver ao Saddam agora estão de frente com um ramo mutante da al-Qaeda e não possuem o poder militar necessário para repelir o inimigo.

Durante a guerra do Afeganistão, Tony Blair disse que uma intervenção na região do rio Hemland iria evitar que se tivesse que lutar com os militantes da jihad nas ruas britânicas. Ele estava forçando um pouco a barra. Ainda assim, as consequências dessas ações do ISIS serão de grande alcance. Sabe-se que 450 jovens britânicos muçulmanos se juntaram aos militantes da jihad na Síria, muitos deles voltaram - e um número assustadoramente alto não pôde mais ser rastreado pelos serviços de segurança. A polícia já acredita estar vendo exemplos de ataques terroristas sendo planejados por esses jovens veteranos da jihad síria.

O Ocidente tem opções. O exército iraquiano precisa de apoio aéreo para retomar Mosul. Os curdos também podem se beneficiar com a ajuda ocidental. Porém, como ficou claro nos últimos 15 anos, é perigoso pensar que existe uma opção militar rápida nesse contexto. Em caso de intervenção, deve-se estar preparado para se emaranhar no conflito local. David Cameron pode sentir que não tem os recursos para responder ao levante do ISIS, só que esse não é um problema que o Ocidente terá o luxo de assistir de longe.

fonte;

Do The Spectator.

Tradução: Fernando de Souza

Escrito por The Spectator | 16 Junho 2014

Internacional - Oriente Médio

Geen opmerkings nie :

Plaas 'n opmerking

AddToAny

Página