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Onda De Despejos Gera Crise De sem-teto Na Espanha EM 2012



Ativistas organizam barreiras contra ações de despejo na Espanha


Na primeira noite depois que Francisco Rodriguez Flores, 71, e sua mulher, Ana Corral Lopez, 67, foram despejados de seu pequeno apartamento após terem atrasado as parcelas do financiamento, eles dormiram no hall de entrada de seu prédio. Suas filhas, ambas desempregadas e morando com eles, dormiram na van de um vizinho.

16/11/2012

“Foi a pior coisa da minha vida”, disse Ana Lopez recentemente, enquanto olhava para suas mãos. “Você não pode imaginar como me senti tendo que dormir naquele hall. É uma história que não dá apenas para contar, pois as palavras não traduzem exatamente o que é viver essa situação”.

As coisas estão um pouco melhores agora. Os Rodriguez estão entre as 36 famílias que ocuparam um bloco de apartamentos de luxo em Sevilha, que estava vago há três anos. Não há eletricidade no prédio. A água foi cortada recentemente e há o temor de que as autoridades irão expulsá-los mais uma vez. Mas, segundo Ana, o melhor é que eles não estão vivendo na rua – pelo menos não por enquanto.

O número de famílias espanholas que têm enfrentado o despejo continua crescendo a um ritmo vertiginoso – centenas por dia, dizem os defensores dos direitos de habitação. O problema se tornou tão grave que o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, prometeu anunciar medidas de emergência na segunda-feira (12).


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Espanhóis são despejados por inadimplência






Foto 1 de 6 - Soraya Urbano Oviedo, 31, desempregada, perdeu a casa e ocupa um apartamento de um banco Mais Liana Aguiar/BBC Brasil

Enquanto alguns são capazes de mudar-se para as casas de outros membros de suas famílias, um número crescente de espanhóis, como os Rodriguez, não tem essa opção. Os parentes dos Rodriguez não estão em melhor situação do que eles, e a Espanha praticamente não dispõe de nenhum sistema de abrigo de emergência para atender essas famílias.

Para alguns, a pressão tem sido grande demais para suportar. Nas últimas semanas, um homem de 53 anos de idade, de Granada, se enforcou apenas algumas horas antes de ser despejado de sua casa, e uma mulher de 53 anos de idade, de Bilbao, saltou para a morte quando os oficiais de justiça chegaram em sua porta.

No entanto, ao mesmo tempo, o país está cheio de moradias não habitadas de todos os tipos – talvez existam até dois milhões de unidades vazias, de acordo com algumas estimativas. Especialistas dizem que um número cada vez maior das pessoas que foram despejadas – que enfrentam uma vida de dívidas e um sistema de inserção em uma “lista negra de inadimplentes” que torna praticamente impossível alugar um imóvel – tem ocupado residências vagas ou se mudando de volta para suas antigas casas depois de elas terem sido apreendidas pela Justiça.

Às vezes, os vizinhos informam as autoridades sobre a ocorrência desse tipo de ocupação. Mas, geralmente, dizem os especialistas, eles não dizem nada. Essa é uma situação temporária e, muitas vezes, aflitiva. Mas muitos não conseguem enxergar outro caminho.

Os Rodriguez atrasaram os pagamentos de seu financiamento ao tentar ajudar suas filhas, que perderam o emprego e têm um total de três filhos entre elas. Suas filhas tiveram que ir morar na casa dos pais após terem sido, elas mesmas, despejadas.

“Eu não podia deixar minhas filhas e meus netos morrerem de fome”, disse Lopez, que costumava trabalhar como faxineira em uma casa de repouso para idosos.

Não há nenhum monitoramento do número de ocupantes de imóveis vazios. Mas Rafael Sanz Martin, presidente de uma administradora de imóveis, diz que esse tipo de ocupação se tornou tão comum que algumas imobiliárias relutam em colocar anúncios na parte externa dos edifícios para informar que há apartamentos disponíveis.

“A piada é que metade das pessoas que têm visitado os apartamentos disponíveis no mercado estão, na verdade, apenas escolhendo qual apartamento pretendem ocupar”, disse ele.

A maioria dos despejos ocorre discretamente, após famílias envergonhadas entregarem suas chaves aos bancos. Mas, em alguns bairros populares, há confrontos semanais com a polícia e com funcionários de bancos, enquanto defensores dos direitos de habitação e voluntários tentam resistir às tomadas dos imóveis.

No bairro de Carabanchel, em Madri, uma multidão que protestava do lado de fora de um apartamento localizado no porão de um prédio recentemente gritou “vergonha” para um grupo de funcionários de bancos e oficiais de justiça que estavam no local para despejar Edward Hernandez e sua família. Mas o advogado de Hernandez, Rafael Mayoral, interrompeu o protesto e disse que conseguiria negociar um adiamento. Segundo ele, a multidão de manifestantes era mais numerosa do que o contingente de policiais.

Hernandez, de 38 anos, que trabalhava na construção civil, comprou o apartamento por US$ 320 mil em 2006, mas perdeu seu emprego três anos depois. Ele acreditava ter negociado com seu banco uma redução nos pagamentos por um tempo. Mas, segundo Hernandez, um dia ele recebeu uma carta informando que seu apartamento havia sido leiloado.

Hernandez e sua esposa estão de olho em um apartamento vazio que pretendem ocupar. Na falta dessa opção, o casal terá que se separar, disse ele.

Sua esposa terá que voltar a viver com a mãe, que também está com os pagamentos de seu financiamento imobiliário atrasados e já abriga seus outros filhos adultos. Hernandez irá viver com seu irmão, que mora com sua jovem família em um apartamento-estúdio.

Até o final da manhã, os funcionários do banco e os oficiais de justiça haviam concordado em adiar o despejo de Hernandez por seis semanas. Ele ainda tem uma dívida de mais de US$ 330 mil – quantia superior à que custou seu apartamento. Na Espanha, os detentores de financiamentos imobiliários são considerados pessoalmente responsáveis pelo valor total de suas dívidas. Além disso, eles têm que arcar com multas referentes a juros e com dezenas de milhares de dólares em taxas judiciais, que são somadas à conta no momento da execução hipotecária. Falência também não serve como desculpa – dívidas imobiliárias são especificamente excluídas desse caso.

Ao tentar conter o fluxo de desabrigados, o governo espanhol pediu aos bancos para que aderissem a um código de conduta que protege, em certo nível, os espanhóis mais pobres – e muitos bancos assinaram esse documento. Mas os defensores dos direitos de habitação dizem que o código oferece alívio para uma fatia tão pequena de proprietários de imóveis – aqueles que não contam com adultos que trabalham em casa e que pagaram menos de US$ 260 mil por suas residências –, que é improvável que ele tenha muito efeito.


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Espanhóis saem às ruas de Madri para protestar contra política de austeridade do Governo




Foto 1 de 14 - Milhares de espanhóis realizam um protesto contra a política de austeridade do governo em Madri neste sábado (21). A Espanha enfrenta uma grave crise financeira. A taxa de desemprego chegou a 25% no país Mais Pierre Phillipe/AFP

Elena Cortes, conselheira de obras públicas e habitação da Andaluzia, região que inclui a cidade de Sevilha, disse que, durante os anos do boom imobiliário o governo raramente construía moradias para proprietários de baixa renda. Além disso, o país nunca teve muitas propriedades para locação. Agora, conforme as famílias são despejadas, elas não têm para onde ir.

Em uma declaração por escrito, a AEB, associação espanhola do setor bancário, disse que os bancos estão trabalhando e realizando negociações para evitar despejos sempre que possível.

Os Rodriguez começaram a viver no prédio de luxo, o Corrala Utopia, em maio passado, com apenas alguns pertences. A mudança para o prédio foi organizada por membros do movimento 15-M, nome dado às pessoas que se organizaram após os protestos realizados em todo o país e que tiveram início em 15 de maio de 2011. Um membro do grupo, Juanjo Garcia Marin, disse que o imóvel foi escolhido porque estava atolado em processos judiciais, o que pode dar às famílias mais tempo para ficar lá.

Vizinhos têm lhes dado móveis, e doações de alimentos chegam quase todos os dias. Em uma noite recente, Ana Lopez estava usando um gerador para manter as luzes acesas e sua geladeira funcionando. Outros que vivem no edifício também possuem geradores, mas alguns não conseguem pagar a gasolina para mantê-los funcionando.

Depois do jantar, o neto de Ana, de 13 anos de idade, chegou e anunciou que precisava de um lugar para fazer sua lição de casa. O apartamento de sua mãe, no andar de cima, estava sem luz.

Fonte;uol
http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/ativistas-organizam-barreiras-contra-despejos-na-espanha,e7892352316fa310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html

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