Quando a presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Kaci Kullmann Five (foto), anunciou, no passado 6 de outubro, a decisão de outorgar o Prêmio Nobel da Paz 2016 ao presidente colombiano Juan Manuel Santos, os observadores de todo o mundo ficaram estupefatos.
O titular do diário italiano Corriere della Serase perguntava se a eleição tinha sentido; o espanhol El Mundo o considerou inapropriado e The Wall Street Journal o rotulou de estranho. Depois de tudo, Santos obteve o prêmio por seu papel em um processo de paz de seis anos com o bando narco-terrorista FARC, cujo acordo foi rechaçado pelo povo colombiano.
13/10/2016
Só 17% dos possíveis votantes o respaldou. Kullmann Five alegou que o galardão foi concedido em reconhecimento ao trabalho realizado, com a Noruega como país fiador, e para alentar a busca da paz. Porém, o móvel real de tão extravagante decisão pode-se encontrar, como ocorre com muitos países que fazem parte do duvidoso processo de paz na Colômbia, em interesses econômicos, especificamente, petróleo.
Antes de ocupar seu atual posto no Comitê Nobel, entre 2003 e 2007, Kullmann Five foi vice-presidente do conselho Statoil, a maior empresa petroleira norueguesa. O governo desse país, cujo papel como fiador nas negociações de paz é chave, possui a maior parte das ações da empresa, à qual em 2014, sob o governo de Juan Manuel Santos, se concedeu uma licença de exploração nas águas territoriais colombianas do mar do Caribe.
Já não surpreende descobrir que as pessoas e países que fazem parte do processo de paz na Colômbia têm vínculos com companhias petroleiras com importantes interesses no país, que dependem das concessões e licenças do governo de Santos. Em um artigo de 12 de março do presente ano, aludi o conflito de interesses que afeta o enviado do governo norte-americano aos diálogos de Havana, Bernard Aronson, fundador e gerente de Acon Investments, uma firma de investimentos que tem uma participação majoritária em Vetra Energia, empresa cujos investimentos na Colômbia são o resultado de concessões governamentais outorgadas em 2010 e 2012.
Em um artigo de 2 de agosto de 2016, assinalei o estranho papel que a Suíça exerce nos diálogos de paz ao aceitar que se guarde na sede de seu Conselho Federal o documento assinado entre Santos e as FARC, um gesto prematuro, já que o acordo foi rechaçado pelos votantes. A participação suíça também parece motivada por interesses econômicos relacionados com o petróleo, pois as empresas de matérias-primas com sede na Suíça, que geram 4% do PIB desse país, investiram bilhões de dólares em negócios de carvão e petróleo na Colômbia, graças a concessões do governo de Santos.
No que concerne aos interesses da Noruega, sua reputação como um dos países menos corruptos do mundo não alcança a estatal Statoil, à qual em 2004 uma corte norueguesa condenou por corrupção ao encontrá-la culpada de subornar figuras políticas iranianas para obter contratos petrolíferos. Em 2006 a empresa resolveu um caso com as autoridades norte-americanas relacionado com os mesmos fatos, pagando 21 milhões de dólares, e reconhecendo que havia subornado funcionários iranianos para assegurar contratos e obter informação confidencial.
Após o escândalo, o diário britânico The Telegraph citou Kullmann Five, que era porta-voz do Conselho de Administração da empresa, a qual disse que ela manteria suas atividades internacionais “com idêntico vigor”. De fato, o fez.
Quando a antiga integrante do Conselho de Administração de Statoil, como presidente do Comitê Norueguês do Nobel anunciou a concessão do prêmio a Santos, a desconcertada opinião pública começou a fazer conjeturas sobre suas motivações. Certamente não seria pela grande contribuição de Santos à paz, após investir seis anos e bilhões de pesos em um projeto falido. Alguns propuseram que o comitê quis premiar a própria participação norueguesa no processo de paz. Entretanto, a associação de Kullmann Five com a empresa petroleira estatal e suas recentes concessões de perfuração da Colômbia sugerem uma motivação mais prosaica. E, embora não haja provas de suborno neste caso, poderia se tratar de outro intercâmbio fraudulento de favores de “paz”.
Lia Fowler, jornalista norte-americana, é ex-agente especial do FBI.
Tradução: Graça Salgueiro
FONTE;http://www.midiasemmascara.org/artigos/internacional/america-latina/16763-2016-10-12-21-51-07.html
| 12 OUTUBRO 2016
INTERNACIONAL - AMÉRICA LATINA
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