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MERS: O que os cientistas sabem sobre o novo vírus que vem do Oriente Médio?
Embora a sua atenção tenha sido redobrada desde os surtos de 2013, o vírus MERS foi isolado pela primeira vez em junho de 2012. Desde sua existência, quase 700 pessoas foram diagnosticadas e a fatalidade está em torno de 30%.
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Há cerca de um mês, em uma tarde comum da minha carreira de doutorado, a notícia do primeiro caso de MERS no hemisfério oeste chegou aos nossos ouvidos. Talvez em qualquer outro laboratório isso seria apenas mais um dado cientifico, porém, para nós, MERS e outros coronavírus (CoV) são parte do nosso dia-a-dia. Eu trabalho no laboratório do Professor Dr. Andrew D. Mesecar, na Purdue University, no estado de Indiana, nos Estados Unidos. Por uma grande coincidência, o primeiro caso foi diagnosticado no nosso estado e em poucos momentos jornalistas de diversos tipos de mídia já estavam aqui entrevistando Prof. Mesecar e tentando entender um pouco mais esse vírus que há algumas horas estava fora do radar da população.
MERS tem a sua origem na Arábia Saudita e significa Middle East Respiratory Syndrome, ou, em português, Síndrome Respiratória do Oriente Médio. Embora a sua atenção tenha sido redobrada desde os surtos de 2013, o vírus MERS foi isolado pela primeira vez em junho de 2012. Desde sua existência, quase 700 pessoas foram diagnosticadas e a fatalidade está em torno de 30%.Os sintomas são pneumonia forte, acompanhado em casos mais severos (pessoas que já tenham um sistema imunológico mais fraco, como idosos e crianças), de falha renal. Entre todos os pacientes, apenas dois se encontram nos EUA e todos eles já se estão bem e de volta à rotina.
**Prof. Andrew Mesecar. Foto cortesia da (Purdue University photo/Steven Yang)
Prof. Mesecar tem estudado diversos coronavírus por mais de uma década. O mais famoso membro dessa família é o SARS, a síndrome aguda respiratória severa, que entre novembro de 2002 e julho de 2003 teve a capacidade de infectar cerca de 8.273 pessoas com fatalidades de quase 900 indivíduos.
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Segue aqui um depoimento do Prof. Andy Mesecar com sua visão e estratégia para desenvolvimento de moléculas/medicamentos, no contexto do MERS.
"Nós sabemos da existência de coronavírus(CoV) desde 1960, com a identificação de CoV capazes de infectar humanos OC43 e H229E, seguido pelo MHV que ataca roedores. MHV é o mais estudado, pois é facilmente cultivável e nós temos uma compreensão vasta de sua biologia molecular. Até a chegada do SARS, um pouco mais de 10 anos atrás, havia apenas cerca de uma dezena de pesquisadores que trabalhavam com CoV. Quando SARS apareceu esse CoV foi de imediato identificado através de microscopia eletrônica, e financiamento de pesquisa começou a vir dos EUA, China e Canadá e isto acelerou o ritmo dos estudos e entendimento de CoV. Com os resultados destes esforços científicos, aprendemos a sequenciar o vírus rapidamente, que é o maior vírus humano com genoma de cerca de 30 mil pb. A tecnologia para triagem de pacientes que tinham SARS, foi indiretamente aplicada a diferentes tipos de pesquisas perguntando: "Há outros CoV humanos existentes que nós simplesmente não sabemos sobre eles isso ainda?" E por causa da metodologia de ampliação de DNA (PCR), nós prestamos mais atenção aos pacientes que estavam sofrendo de infecção respiratória grave, mas que não tinham agente causador identificado. É assim que encontramos os HKU1 e NL63 vírus humanos, que na verdade estavam por aí por um bom tempo. Você pode encontrar o vírus NL63 em um monte de hospitais diferentes e até rastreá-lo, como fazemos com a gripe normal. Além disso, existe um CoV que pode infectar e matar gatos, de modo que você pode perder o seu animal de estimação por causa disso. Então, historicamente, isso é o que sabemos sobre os coronavírus humanos.
Especificamente para o SARS, nossa pesquisa envolve continuamente a descoberta de moléculas contra duas enzimas que são necessárias para o vírus, a fim de ajudar o vírus a sobreviver e replicar. Nós identificamos inibidores de ambas as enzimas que trabalham contra o vírus em cultura de células e temos modelos animais para uma dessas enzima, e podemos ver efeitos eficazes reais de um antivírus em um modelo animal.
Em nosso laboratório temos um arsenal de moléculas disponíveis , e quando a sequência do genoma do vírus MERS foi decifrado, fomos capazes de estudar o DNA, sintetizar e inofensivamente produzir as proteínas do MERS. Nós essencialmente isolamos duas enzimas/proteínas e somos capaz de olhar diretamente na sua a inibição por esses medicamentos. Descobrimos que essas drogas que atuam contra a primeira enzima do SARS não funcionam contra MERS. Portanto, estamos agora no processo de triagem de centenas de milhares de moléculas que temos em nosso laboratório para encontrar novas moléculas de chumbo que vão efetivamente inibir MERS usando a primeira enzima. Para a segunda, alguns dos medicamentos antivirais são bons e fizemos alguns ajustes para que eles funcionem melhor ainda contra a segunda enzima e agora estamos apenas no processo de testar eles contra o vírus.
Nós também determinamos a estrutura 3D destas enzimas e sabemos exatamente como essas moléculas se encaixam no sítio ativo. É como um quebra-cabeça em 3D e estamos tentando encaixar aquele pedaço no último local, tentando encaixar bem e, embora estejamos muito próximos não é bem a parte certa e nós estamos olhando para achar a peça perfeita para encaixar no sítio ativo e bloquear a enzima. O resultado final seria um vírus que é incapaz de replicar e sobreviver.
Então, no momento não temos medicamentos antivirais. Nada que você possa tomar uma pílula ou uma vacina para matar um vírus no seu corpo, se você for infectado por qualquer CoV humano. Portanto, se um surto vier a acontecer em grande escala, não temos nenhuma maneira de pará-lo além de quarentena e esperança de que pacientes vão ficar bem. Não há muito que possamos fazer para combater diretamente o vírus. Então, aonde estamos cientificamente se uma epidemia acontecesse? A partir de um consenso entre nós, especialistas , se soubéssemos exatamente o que fazer, identificar uma proteína necessária para o vírus entrar nas células, se fôssemos fazer anticorpos para isso e sabíamos exatamente como fazê-lo, seriam necessários pelo menos 3 anos para obtê-lo testado em seres humanos; que é muito tempo se pacientes estiverem sofrendo pelo mundo. Para colocá-los em perspectiva, temos trabalhado há 10 anos em SARS e nós não temos uma resposta precisa. Se SARS voltar amanhã ainda não temos uma vacina nem um composto antiviral. A razão é que estamos colocando apenas um pouco de recursos para o desenvolvimento dessas terapias. Devemos colocar mais dinheiro? Acho que temos que colocar algum, mas não devemos investir todo o dinheiro destinado a pesquisa nessa área, e a razão é que estes surtos de CoV , no momento, não são algo para estarmos realmente alarmados. Claro, eu não gosto de ver ninguém morrer, mas vamos analisar a situação por outro angulo. Nos EUA infecções hospitalares matam mais de 15 mil pessoas por ano e você não vê isso fazendo notícia, é apenas percolação lá. Mas eu posso te dizer que toda vez que eu vou ao hospital eu lavo minhas mãos depois de tudo que eu toco e eu não quero minhas filhas perambulando por ali, porque você tem uma chance maior de pegar algo e morrer ao ir visitar um amigo no hospital do que você tem de morrer de SARS ou MERS . Então, essa é uma perspectiva saudável que todos nós devemos ter em mente."
Por fim, espero que este post inicial possa servir de base para uma boa jornada. Em meio a tantos avanços científicos e o esforço de diversos cientistas pelo mundo, espero poder registrar aqui um pouco do trabalho que muitas vezes é imperceptível à população, mas que contém tamanha importância para o desenvolvimento de novas terapias que um dia poderão ajudar a humanidade a prevenir ou combater diversos males.
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FONTE;https://www.huffpostbrasil.com/julia-pereira-luciano/mers-o-que-os-cientistas-sabem-sobre-o-novo-virus-que-vem-do-or_a_21671932/
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