Não é prerrogativa da presidente Dilma Rousseff lançar plebiscito e, muito menos, constituinte, de acordo com o cientista político Carlos Melo, professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).
"A proposta faz sentido, pois o sistema político não se reforma sozinho --políticos não gostam de mudar um jogo em que eles estão jogando e ganhando. Mas não depende só da presidente", explica.
25/06/2013
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Dilma defendeu na segunda-feira (24) a realização de um plebiscito para reforma política em resposta aos protestos que movimentaram milhares de pessoas pelo país. De acordo com Melo, nas próximas semanas ficará claro se o Congresso e os partidos vão assimilar essa proposta. "É uma situação de muita indefinição. Haverá pressão nas ruas que determinará alguma mudança?"
Para melhorar o sistema político do Brasil, Melo defende o voto distrital, em que os membros do Legislativo seriam eleitos com base em votações em áreas restritas. Esse sistema acabaria com o voto proporcional e o coeficiente eleitoral, ou seja, não seria possível que um candidato com muitos votos ajudasse a eleger outros políticos de sua coligação, como aconteceu com Tiririca.
"Um dos problemas dessa crise é a distância entre eleitor e eleito. Se criarmos distritos menores, pode ajudar", diz Melo. Segundo o professor, um deputado de São Paulo disputa voto em 640 municípios, enquanto um deputado de Minas Gerais disputa em mais de 800 municípios. "Eles não vão a todos. Visitam alguns, e apenas de quatro em quatro anos", explica.
O voto proporcional traz muitas distorções e problemas relacionados a coligações, de acordo com o cientista político. Atualmente, um partido pequeno acaba elegendo um ou dois candidatos porque pegou carona com um partido grande, que ganha alguns segundos de tempo de televisão no horário político eleitoral. "Cadê as alianças em função do programa político ideológico?", indaga.
Editoria de Arte/Folhapress
Melo também é simpático ao voto distrital misto, que é uma combinação dos votos distrital e proporcional. Em relação ao voto em lista --em que o eleitorado seleciona os candidatos na ordem que o partido determinou--, o professor diz que o tema é muito controverso. "Algumas pessoas argumentam que esse modelo tira do eleitor a capacidade de escolher o seu representante", explica.
Sobre o financiamento público de campanha, outro tema recorrente quando se trata de reforma política, Melo é cético. "Não conseguimos nem garantir que as pessoas não coloquem cartazes nos postes. Como vamos garantir que o financiamento público seja exclusivo?". Ele acrescenta que a sugestão de dar dinheiro público para que os políticos façam campanha é uma ideia que não teria aceitação da população, em função da maneira que os políticos são vistos atualmente.
"O Brasil é um país muito grande, precisaria de uma justiça eleitoral enorme para fiscalizar o financiamento público", argumenta.
Alguns manifestantes são contrários à existência de partidos políticos. "Se contra os partidos que temos hoje é uma coisa e ser contra a ideia de partidos é outra coisa completamente", diz Melo, defendendo que o Brasil não deve abrir mão de uma ferramenta importante apenas porque ela está sendo manejada por mão inábeis nesse momento. "Temos que preservar métodos, não adianta jogar tudo no lixo e deixar um grande vazio."
FONTE;UOL
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