BRASIL A VERDADE DOS FATOS o impeachment de Dilma Rousseff 31/08/2016; Diário Filosófico de Olavo de Carvalho: o impeachment de Dilma Rousseff




Bem lembrado pela Lilian Cristina :
*31 AGOSTO 2016

O problema do Brasil não é o Collor, não é o FHC, não é o Lula, não é a Dilma. É a porra do SISTEMA, o estamento burocrático e suas malditas instituições.


Tanto o impeachment do Collor quanto o da Dilma não são vitórias do povo contra o sistema, mas vitórias do sistema contra os seus próprios elementos disfuncionais. Só isso. Ou, em outras palavras: grande merda.

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Dilma saiu com ares de triunfo. Altiva e desafiadora. Seu discurso NÃO FOI só bravata. O impeachment foi uma injeção de testosterona numa esquerda que ia se acomodando, corrompendo e debilitando a cada dia, e que agora SABE que precisa se revigorar com uma disciplina dura e um esforço de auto-correção. 

Não se deixem iludir pelo sumiço das estrelas vermelhas. O recuo para a clandestinidade é procedimento USUAL NO MOVIMENTO COMUNISTA E NÃO SIGNIFICA DERROTA DE MANEIRA NENHUMA.

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Vocês já esqueçeram as efusões de entusiasmo patriótico que se seguiram à queda do Collor? Era o início de uma nova época, de um novo Brasil, o escambau.

Agora vamos ver tudo de novo, caraio.

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Depois que os brasileiros consentiram passivamente em aceitar os resultados de uma eleição fraudulenta, o impeachment de uma das eleitas surgiu como prêmio de consolação e autêntico boi-de-piranha — ou, mais propriamente, vaca de piranha. Com grande festança patriótica, a vaca está sendo roída enquanto seu companheiro de chapa, tão usurpador quanto ela, brilha como símbolo federal da ordem democrática e atravessa o rio levando consigo o rebanho inteiro. Humilhado e ludibriado, o povo apega-se ao prêmio de consolação como se fosse a vitória das vitórias. É patético.

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Nunca um movimento popular tão vasto e possante foi neutralizado com tanta facilidade. Quando aqueles idiotinhas começaram a "Marcha para Brasília", isso já era inteiramente previsível, e de fato foi previsto. Só que, entre uma advertência racional e uma retórica advocatícia supremamente kitsch, a turma vai preferir sempre esta última, que está arraigada na sua cultura como símbolo de prestígio e autoridade.


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O impeachment cortou um pedaço de esquerda. Um pedaço não muito grande, embora vistoso. Mas da direita ele fez picadinho. As pessoas VÊEM esse resultado com os seus próprios olhos, mas se recusam a ligar causa e consequência. É como mulher estuprada que esconde a identidade do estuprador para não passar vergonha.


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Escrevi isto ONTEM. Não precisavam ter tanta pressa em me confirmar:
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A esquerda é um vasto esquema de poder que, durante algum tempo, se condensou nos símbolos “Lula” e “Dilma”. O ódio popular a esses símbolos poderia ser canalizado no sentido da destruição do esquema inteiro. Inspirada, não por coincidência, em esquerdistas históricos como Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo, a liderança popular contentou-se em remover os símbolos sem mexer no esquema. That’s all, folks.
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É impressionante o número de brasileiros que não apenas pensam com somente dois neurônios, um chamado “a favor” e o outro “contra”, mas também interpretam assim o que eu escrevo. Quando vão entender que estou cagando e andando para questões tipo “pró ou contra impeachment”, “pró ou contra Bolsonaro”, “pró ou contra Janaína Paschoal” etc., e que, se algo do que eu digo parece favorecer ou desfavorecer alguma pessoa ou grupo, isso é apenas um efeito colateral irrisório, bem distante do centro das minhas preocupações? As “tomadas de posição”, sobretudo aquelas mais carregadas de emoções moralizantes, são o mais vil e patético sucedâneo do trabalho da inteligência.
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A maior parte dos palpiteiros de hoje nem tinha nascido quando o Collor sofreu impeachment. Para eles, a semelhança não chega sequer a ser mera coincidência. Ela nem existe.
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Quem não quer ver a Dilma pelas costas e o Lula na cadeia? Só eles mesmos e seus puxa-sacos, é claro. Mas daí a enxergar na derrubada deles uma decisiva mudança de rumo na política brasileira, a distância é tão grande quando a que existiu entre o impeachment do Collor e a moralização nacional.
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Ser ou não de esquerda tem POUCO OU NADA a ver com idéias ou convicções pessoais. Tem a ver com laços e compromissos objetivos com grupos e correntes de poder — a posição real da criatura no tabuleiro e não aquilo que ela imagina ou tenta projetar de si mesma. A concepção idealista-burguesa de esquerda e direita, que vê tudo como uma questão de convicções íntimas, é, com justa razão, objeto de riso entre os marxistas. Foi com base nessa concepção supremamente idiota que o Marco Antonio Vil chegou a negar qua o Lula fosse comunista (porque “não havia nem lido Marx”), numa época em que o Lula era nada menos que o líder máximo do Foro de São Paulo, reconhecido por todos os comunistas como o salvador providencial do movimento comunista no continente. Para saber se um sujeito é ou não comunista de acordo com o ponto de vista estratégico-funcional do próprio movimento comunista, a pergunta decisiva não é “O que você pensa?”, mas “Com quem você se alia?’.


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O impeachment da Dilma é o sacrifício do bode expiatório, oficiado solenemente para salvar a tribo inteira dos políticos esquerdistas. Nunca, nunca um combate anticomunista sério poderia começar tomando por alvo os personagens mais vistosos. Era preciso começar por baixo, expulsando gente das cátedras, das redações, dos sindicatos, das igrejas — e só depois desse saneamento básico lançar o assalto às estrelas maiores. O impeachment é instrumento válido e útil para remover um mandatário corrupto numa ordem político-social normal e funcional. Quando é a própria ordem que está corrompida, os meios de ação têm de ser outros.

Fico realmente consternado de ver o talento e o heroísmo da Janaina Paschoal serem desperdiçados na luta contra um fetiche.

P. S. – Nem é preciso dizer, o Arruinaldo Azevedo verá neste parágrafo uma prova de dilmismo…
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É inútil perguntar se a Janaína Paschoal — ou qualquer outra pessoa — “é” de direita ou “é” de esquerda. É preciso ver para onde ela está indo e quem ela está levando junto. Por enquanto, tudo o que vi foi uma espetacular auto-reciclagem do estamento burocrático abastecido de energia pelo próprio entusiasmo da massa que pretendia destrui-lo.
Tenho a impressão de que este cartaz já responde parcialmente à pergunta:
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Só a demolição do estamento burocrático e a instauração de uma democracia genuína podem garantir melhores dias para o povo brasileiro. O impeachment demonstrou, ao contrário, que “as nossas instituições estão funcionando”, isto é, que o estamento burocrático, sem alterar-se no mais mínimo que seja, tem a capacidade de resolver seus próprios problemas — coisa da qual, aliás, jamais duvidei.
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“Agora que Dilma — bato três vezes na madeira! — deixará a cena, as mais decisivas batalhas do povo brasileiro vão ocorrer nos campos da cultura, da educação e da mídia.”


É verdade. E o tempo mostrará que é muito mais fácil tirar um presidente da República do seu cargo do que um único professor esquerdista da sua cátedra.
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Ante a explosão de revolta nas ruas, era preciso, a qualquer custo, impedir que as esperanças populares se cristalizassem no símbolo “Jair Bolsonaro”, que representava — oh, horror! — o “risco do retrocesso”. Em comparação com objetivo tão vital e urgente, sacrificar uma idiota e talvez até mesmo um velho beberrão decrépito não chega sequer a ser um prejuízo: é custo operacional.
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Podemos até estar gratos à Janaína Paschoal, mas no sentido em que muitos russos, nos idos de 1917, imploravam aos bolcheviques que os defendessem do invasor alemão.
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Uma vitória pífia neutralizada por um truque besta mais que previsível. E ainda há quem bata no peito, celebrando a glória da democracia.
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A Janaína Paschoal não foi feita de trouxa. Ela É trouxa.
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A esquerda subiu aos poucos, começando de baixo, com um longo trabalho de formiguinha nas escolas, nas igrejas, etc., até chegar a governar o país por doze anos. A direita quer fazer a revolução cultural às avessas: começando por cima, tirando as estrelas do cartaz e deixando a base social intacta. Mas, como acabo de dizer nesta mesma página, o tempo mostrará que é muito mais fácil tirar um presidente da República do seu cargo do que um único professor esquerdista da sua cátedra.
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A esquerda brega e a esquerda chique, no Brasil, são ambas comandadas por interesses globalistas. Estes deram força à primeira enquanto foi possível, agora dão mão forte à segunda. Só o que mudou foi isso. A direita, em todo esse episódio, só fez o papel de camisinha.
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Já expliquei mil vezes: a ciência política começou quando Platão e Aristóteles distinguiram entre o discurso dos agentes políticos e o do observador científico. No Brasil essa distinção continua sendo um segredo esotérico só acessível a poucos. A maioria não capta essa diferença de jeito nenhum. Levou anos para perceber que o Arruinaldo Azevedo não era um comentarista, mas um agente político. E até agora continua interpretando os meus escritos como de eu fosse um agente político. Essa estupidez está consagrada até na Wikipédia, num perfil, aliás, que é um dos mais vandalizados de todos os tempos.
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Getúlio Vargas, Adhemar de Barros, Paulo Salim Maluf, Fernando Collor, Dilma Rousseff. etc. etc No septuagésimo ano da minha existência neste planeta, já vi tantos “fins da corrupção” no Brasil que, hoje em dia, estou persuadido de que o combate à corrupção é a forma mais requintada de corrupção. Mas, para quem não viu nada, tudo é sempre o Capítulo 1.
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Quem, nas novas gerações, sabe quem foi Evandro Lins e Silva? Foi o herói do impeachment do Fernando Collor. Um advogado mais capaz, um orador mais eloqüente e um homem incomparavelmente mais culto do que dez Janaínas Paschoais. A Janaína vai, como dizem, entrar para a História? Ninguém neste país entra para a História. Só brilha por uns instantes como um vagalume e então cai no esquecimento.
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Querem apostar? Ainda vai aparecer gente dizendo que estou com inveja da Janaína Paschoal. Ah, sim, o sonho da minha vida era ser a Janaína Paschoal, caso não conseguisse ser o Kim Katakokinho.
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No mundo em geral, os heróis fazem-se com sacrifícios de vida inteira, numa solidão opressiva, na mais negra miséria ou entre sofrimentos físicos e morais horríveis. No Brasil fazem-se com uma entrevista na “Veja”.
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"Todos juntos por um Brasil melhor" significa usar novamente a direita idiota numa hábil operação de gerenciamento de danos da esquerda.
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Um povo frustrado se baba todo ante a oferta consoladora de um novo orgasminho civico. #ImpeachmentDay
O Brasil não muda, exceto de maquiagem. #ImpeachmentDay
FONTE;http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/16695-2016-08-31-23-04-50.html
ESCRITO POR OLAVO DE CARVALHO | 31 AGOSTO 2016 

ARTIGOS - CULTURA


(Seleção e organização: Edson Camargo, editor-executivo do MSM)



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