Um dos maiores desafios do Brasil é a equação entre maia energia, crescimento econômico e sustentabilidade. CartaCapital debate o tema nesta segunda-feira
Cresce a participação de energias alternativas, como a eólica
Brasil atravessa um período de transição da sua matriz de energia baseada nas hidrelétricas,
que deverão gradualmente perder participação na geração nos próximos
anos. Com o avanço das térmicas movidas a combustíveis fósseis, o setor
poderá tornar-se o maior responsável por emissões de poluentes
a longo prazo e desbancar o desmatamento.
Essa possibilidade levanta uma série de dúvidas em relação ao futuro da matriz, cada vez mais dependente das chuvas, e que exigirá maior diversificação e redução dos custos para o consumidor final, prejudicado por uma das tarifas mais caras no mundo.
30/10/2015
Essa possibilidade levanta uma série de dúvidas em relação ao futuro da matriz, cada vez mais dependente das chuvas, e que exigirá maior diversificação e redução dos custos para o consumidor final, prejudicado por uma das tarifas mais caras no mundo.
30/10/2015
Segundo estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente, as
emissões do setor partiram de um patamar de 195 milhões de toneladas de
dióxido de carbono equivalente (medida da quantidade de gases de efeito
estufa) em 1990 para 440 milhões de toneladas em 2012, equiparando-se
às emissões da agropecuária e da mudança de uso da terra.
De apenas 11% das emissões em 2004, as empresas
responderam em 2012 por 30%, resultado do intenso uso do modal
rodoviário, grande consumidor de diesel e gasolina, para o transporte de
cargas, e do crescimento do uso das térmicas na geração elétrica. Esse e
outros desafios no setor serão discutidos na segunda-feira 31 no
seminário “Energia: Crescimento Sustentável”, mais um evento da série Diálogos Capitais.
Neste ano de forte
estiagem, com o nível dos reservatórios perto dos 20% na Região
Sudeste, e o aumento do risco de um novo racionamento, as usinas
térmicas contribuíram com quase um terço da geração de energia do País. O
avanço da participação dessas unidades coincide com a maior dependência
das chuvas para gerar eletricidade e a dificuldade de se construirem novas hidrelétricas, hoje restritas à Região Norte, detentora de cerca de 70% do potencial hidrelétrico nacional.
Desde a década de 1990, o País constrói
usinas a fio d’água, ou seja, sem grandes reservatórios de armazenagem.
Nos anos 1980 e no início da década de 1990, a capacidade dos
reservatórios possibilitava o armazenamento de energia por até três
anos. Um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro mostra
que, em 2001, a capacidade de regularização dos reservatórios, ou o
quanto de energia o Brasil pode armazenar na forma de água para suprir a
demanda de energia, era de pouco mais de seis meses. Em 2012, a
capacidade de regularização caiu para 4,9 meses e poderá diminuir ainda
mais.
Entre 2013 e 2018, período previsto para o
início de operação de grandes empreendimentos como as usinas do Rio
Madeira e de Belo Monte, deverão ser acrescentados ao sistema 20 mil
megawatts de capacidade hídrica. Desse total, só 200 megawatts têm
reservatórios, segundo estimativa do Operador Nacional do Sistema. Isso
fará com que a capacidade de armazenamento caia para 3,8 meses em 2018,
de acordo com algumas estimativas de empresas privadas. Nesse contexto, a
energia térmica ganha espaço.
A menor área de alagamento reduz os impactos ambientais,
mas torna o sistema mais dependente de São Pedro. “Neste ano, não
tivemos problemas porque a demanda da indústria está muito fraca, por
conta da recessão”, afirma o físico Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente
da Eletrobras e diretor da Coppe (UFRJ).
Licitar projetos hidrelétricos é
complicado, a exemplo da Usina São Manoel, no Rio Teles Pires, na divisa
do Mato Grosso com o Pará. A União tentou por mais de três anos obter o
licenciamento do empreendimento. Em 2010, o Ibama apontou uma série de
deficiências no estudo de impacto ambiental da hidrelétrica, com capacidade estimada para abastecer mais de 2 milhões de residências.
Em 2011, durante o processo de audiência pública
para discussão do empreendimento, quatro funcionários da Funai, dois da
Empresa de Pesquisa Energética e um antropólogo foram sequestrados por
índios da aldeia Kururuzinho, contrária à construção. A usina foi
licitada somente em dezembro de 2013. Até a hora do leilão, a licitação
estava cercada de dúvidas. Depois das dificuldades para obter a licença
ambiental prévia, o projeto chegou a ser retirado por força de uma
liminar da Justiça. A Advocacia-Geral da União derrubou a liminar e
garantiu a licitação, pouco antes do prazo.
Diante dessas dificuldades, as
hidrelétricas, que há 20 anos geravam mais de 80% da energia, deverão
contribuir com 65% no início da próxima década. Com base em três
cenários e em projeções de crescimento da demanda até 2040 em cada um
deles, a participação das hidrelétricas poderá variar de 46% a 57% da
geração de energia elétrica, segundo estudo da FGV Projetos.
O potencial hidrelétrico estimado entre
40 a 50 gigawatts deverá esgotar-se por volta de 2030, segundo projeções
de algumas empresas. Os principais projetos são os do Rio Tapajós, no
Pará, com destaque para São Luís, de 8.040 megawatts de potência e
investimentos de 26 bilhões de reais, o maior empreendimento futuro de
fonte hídrica no País. O governo trabalha para licitá-lo em 2016. A
usina será construída a partir de um novo modelo, inspirado parcialmente
nas plataformas de exploração de petróleo.
A hidrelétrica não seria acompanhada da
instalação de vilas operárias, cidades e centros comerciais no entorno. A
ideia é criar alojamentos temporários, que serão totalmente desmontados
no fim da obra, com redução da possibilidade de grandes migrações para a
região. Além disso, vias provisórias de acesso serão desfeitas e a
vegetação, recomposta com o replantio de árvores.
Usinas eólicas, solares
e térmicas a gás natural deverão ganhar espaço. A opção nuclear,
favorecida pelo fato de o Brasil deter grandes reservas de urânio,
provavelmente voltará a ser discutida. Um destaque deverá ser o uso da
energia solar, hoje inexpressivo, mas que em 2024 poderá representar 3%
da geração de eletricidade no Brasil. Essa alternativa pode gerar 10% da
energia, cerca de 6 mil megawatts médios, apontam estimativas do
governo.
Uma resolução de 2012 da Agência Nacional
de Energia Elétrica estabelece que clientes residenciais e comerciais
podem instalar painéis fotovoltaicos e abater de suas contas a
microgeração obtida a partir dessa fonte. O governo trabalha em um
projeto para estimular o ingresso da energia solar na matriz. Está em
negociação com o Ministério da Fazenda a redução da cobrança de
PIS/Cofins sobre os equipamentos importados, enquanto os secretários de
Fazenda dos estados deverão eliminar o ICMS cobrado sobre os
microgeradores de energia.
O gás terá também presença crescente. A
produção poderá dobrar para 180 milhões de metros cúbicos por dia no
início da próxima década, por causa do pré-sal, apontam algumas
estimativas. Na Bacia de Campos, nos melhores casos fora do pré-sal, são
produzidos 80 metros cúbicos de gás para cada metro cúbico de petróleo.
Já no pré-sal da Bacia de Santos, a média
é de 220 metros cúbicos de gás para cada metro cúbico de petróleo. Uma
portaria da Agência Nacional do Petróleo determina que, a partir de
2015, a queima de gás terá de ser apenas de 3% nos campos de petróleo.
Essa definição harmoniza-se com a situação do pré-sal, com o gás
associado ao óleo, e às promissoras perspectivas de jazidas de gás não
convencional, como as de xisto.
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Energia em debate
Confira a programação do seminário "Energia: Crescimento Sustentável", promovido por CartaCapital:
Na segunda-feira 31, CartaCapital
promove em São Paulo mais um debate da série Diálogos Capitais. Desta
vez, o tema central será a perspectiva de ampliação da oferta de
energia. A seguir, a programação de “Energia: Crescimento Sustentável”:
8h Credenciamento e Welcome Coffee
9h Boas-vindas CartaCapital
9h10 Debate: As Oportunidades de Investimento
Renato Sucupira – Presidente da BF Capital
Nelson Siffert – Superintendente de Energia do BNDES
Maurício Tolmasquim – Presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética)
10h15 Coffee Break
10h30 Debate: A Diversificação da Matriz
Tania Cosentino – Presidente da Schneider Electric para América do Sul
José Carlos de Miranda Farias – Diretor-presidente da Chesf
11h30 Debate: Mais Inteligência na Rede
Sergio Jacobsen – Gerente-geral de Serviços e Soluções para Smart Grids da Siemens no Brasil
Abel Rochinha – Presidente da Ampla e da Coelce
FONTE;http://www.cartacapital.com.br/revista/865/sombra-e-luz-5169.html
por Roberto Rockmann — publicado 30/08/2015 19h04
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