OS DONOS DO MUNDO (NEW WORLD ORDER MUNDIAL) E A Viagem Através do Caos NO ORIENTE MEDIO 2015/2016


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Hoje, é quase banal afirmar que vivemos num ambiente de complexidade e turbulência, enquanto a Gestão começa a adoptar novas concepções sobre a gestão estratégica e as formas de enfrentar a mudança. O que é menos usual é ligar estas evoluções com a verdadeira revolução científica que a Teoria do Caos representa. As suas repercussões estendem-se a campos tão diferentes como a Física, a Biologia, a Economia, a Matemática ou a Gestão e ameaçam alterar drasticamente a nossa forma de ver o mundo.





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A Sociedade da Informação e da Complexidade

A sociedade onde estamos inseridos tem evoluído no sentido de uma crescente complexidade. A informação circula com uma velocidade cada vez mais elevada e as interacções entre os vários sistemas e subsistemas económicos e empresariais são cada vez mais importantes e subtis. As ciências económicas, confrontadas com o falhanço das receitas antigas, procuram agora paradigmas inovadores que respondam à nova realidade.
Nascida no seio das ciências (ditas) exactas, a Teoria do Caos responde de forma diferente às questões que se colocam quanto aos inúmeros sistemas dinâmicos não-lineares que povoam o nosso mundo. Estes sistemas caracterizam-se pela sua evolução temporal imponderável e imprevisível. Contudo, encontraram-se também traços de regularidade e mesmo de universalidade no seu comportamento.
Uma vez que os mercados e as organizações se comportam como sistemas dinâmicos interrelacionais e sobrepostos, a aplicação destes novos conceitos à Gestão parece ser bastante promissora. Mas, antes disso, importa conhecer o que é, de facto, a Teoria do Caos.
Uma nova visão da realidade
«Uma inteligência que, num dado instante, conhecesse todas as variáveis do Universo, abarcaria na mesma fórmula os movimentos de todos os corpos: nada seria incerto para ela, o futuro, tal como o passado, estaria presente a seus olhos». Era este o sonho determinista de Laplace. Nesse momento da história da ciência, a confiança na sua capacidade para determinar o futuro era absoluta e a jóia mais preciosa desta concepção da realidade era o conjunto das leis de Newton, a base da Mecânica determinista Clássica.
Com base nas suas leis do movimento, Newton começou por analisar o comportamento de dois corpos, que resolveu com facilidade, explicando, por exemplo, as órbitas da Lua em redor da Terra. Juntar mais um corpo não deveria complicar muito mais a resolução: mais um esforço e a solução estaria ao seu alcance. Puro engano! Este problema era traduzido por um sistema de equações diferenciais, resultantes das leis de Newton, que descreviam a evolução do sistema. Há dois tipos de equações diferenciais: as lineares, que se podem resolver explicitamente, e as não lineares, impossíveis (salvo raras excepções) de resolver.
O matemático francês Henry Poincaré trabalhou sobre este problema da interacção de três corpos gravíticos. As equações diferenciais que o traduzem são não-lineares (logo, sem resolução explícita), mas ele, num rasgo notável, analisou-as de uma nova forma: qualitativamente. Apesar de não as poder resolver podia determinar se resultariam num equilíbrio estacionário, numa órbita periódica ou noutros estados inesperados.
Poincaré descobriu que existiam no problema dos três corpos comportamentos extremamente irregulares, complexos e não-periódicos. Aquilo a que hoje se chama comportamento 'caótico'. Isto provocou um enorme choque ao cientista pois contrariava profundamente tudo o que se conhecia ou previa na Mecânica Celeste. Se três corpos já manifestavam um comportamento instável, como é que se podia garantir a estabilidade do Sistema Solar?
Foi na sequência destes trabalhos pioneiros que surgiu a Teoria dos Caos, um corpo de ideias científicas cujo objecto é o estudo da evolução de sistemas dinâmicos não-lineares. Um sistema não-linear não é determinista nem previsível, apresentando um comportamento aperiódico e longe do equilíbrio, e ao ser dinâmico, evolui no tempo, fazendo depender o seu estado futuro do estado actual. O mais interessante é verificar que este tipo de comportamento é o mais frequente em sistemas reais, tais como uma panela de água ao lume, um sistema ecológico, a economia mundial ou a atmosfera. Esta característica única faz com que o eco do Caos chegue a ciências tão diferentes como a Física, a Biologia, a Economia, a Matemática ou a Gestão.
A evolução da construção destas novas ideias prosseguiu com o auxílio da informática. O primeiro explorador informático do universo do Caos foi, inadvertidamente, Edward Lorenz, um matemático dedicado à meteorologia. Lorenz programou um simulador de clima no seu computador, um arcaico Royal McBee. O computador imprimia séries de números que representavam a evolução da pressão, temperatura, velocidade e direcção do vento. As equações diferenciais utilizadas por Lorenz tinham um aspecto perfeitamente inocente, até que um acaso revelou a sua verdadeira face.
Um dia, no Inverno de 61, Lorenz quis reexaminar uma sequência temporal do seu simulador. Para ser mais rápido, começou a meio, utilizando os números da série anterior como ponto de partida. As duas séries deveriam ser exactamente iguais, mas logo após alguns meses (simulados) divergiram e perderam qualquer semelhança. Lorenz pensou primeiro numa avaria do computador, mas a solução era mais simples: o computador guardava os números na sua memória com 6 casas decimais, mas só imprimia as três primeiras para ser mais rápido. Ao introduzir os números impressos, Lorenz cometeu um erro na ordem dos décimo-milésimos. Foi este pequeno erro o suficiente para mudar completamente a evolução do sistema.
Mais tarde chamou-se a este comportamento 'Efeito Borboleta' ou Dependência Sensível das Condições Iniciais e costuma ilustrar-se com a noção de que o esvoaçar de uma borboleta hoje em Tóquio pode provocar uma tempestade violenta sobre Nova York em poucas semanas. Este efeito é suficiente para demonstrar a impossibilidade da previsão meteorológica e afastar de vez o determinismo Laplaciano: para se fazer uma previsão perfeita dever-se-iam conhecer as variáveis iniciais com uma precisão infinita. Para armazenar uma variável com precisão infinita, é preciso uma memória infinita. Sendo impossível dispor de uma tal memória, é impossível a previsão determinista.
Chama-se atractor ao comportamento para o qual um sistema dinâmico converge, independentemente do ponto de partida. Um pêndulo em movimento converge para uma oscilação de período constante, uma bola a rolar sobre uma superfície com atrito converge para uma situação de velocidade nula. Os atractores podem-se visualizar marcando os estados sucessivos de um sistema num gráfico, que terá tantas dimensões quantas as variáveis envolvidas. Para conhecer o comportamento dinâmico de um sistema de três equações diferenciais com que estava a trabalhar, Lorenz representou-o num gráfico deste tipo, obtendo a imagem do atractor tridimensional para o qual o sistema convergia. Só que este atractor não correspondia nem a nenhuma situação estacionária nem periódica, o sistema nunca assumia duas vezes o mesmo valor, mas a sua evolução desenhava nitidamente uma forma vagamente semelhante a uma borboleta. O sistema é caótico e imprevisível, mas ao mesmo tempo converge para um atractor determinado que se denomina, apropriadamente, atractor estranho.
A construção deste novo conjunto de ideias continuou com os contributos de cientistas brilhantes como Benoit Mandelbrot ou Mitchell Feigenbaum, que descobriram coisas tão inesperadas como a universalidade e a auto-semelhança em sistemas caóticos. A primeira resultou dos trabalhos de Feigenbaum, que detectou inesperadamente a mesma constante de proporcionalidade na evolução de diferentes sistemas não-lineares. A segunda está intimamente ligada com o desenvolvimento da geometria fractal, que representa o lado mais conhecido e belo do Caos.
Sistemas económicos caóticos
Esta curta viagem pela evolução do Caos permite-nos sintetizar as características de um sistema caótico: não-linearidade, auto-semelhança e dependência sensível das condições iniciais. Parece particularmente promissora a sua aplicação nas Ciências Económicas e Empresariais. Os sistemas económicos são geralmente dinâmicos (evoluem no tempo, dependendo o seu estado futuro do comportamento passado), imprevisíveis e com a grande vantagem, face a outras ciências sociais, de se poder representar o seu estado por números.
Mas como identificar evoluções caóticas? Em que é que isto nos pode ajudar a compreender a realidade? David Ruelle, um dos pioneiros do Caos, utilizou uma analogia extremamente interessante, no seu livro 'O Acaso e Caos', entre um sistema económico e um sistema físico dissipativo. Tal como um recipiente de água ao lume transita de um estado estável para a turbulência da ebulição, quando se aplica mais energia em forma de calor, também a economia tem evoluído de um estado de crescimento linear para o seu comportamento turbulento actual, acompanhando o aumento da sua "energia", traduzida, por exemplo, em riqueza ou desenvolvimento tecnológico.
Apesar da forma simples como se pode traçar este paralelo, a aplicação prática do Caos à Economia esbarra no facto de esta evolução se processar num fundo de crescimento geral, de ser susceptível a fortes choques externos e de não haver séries temporais suficientemente longas. Isto não impede, porém, que o contributo conceptual do Caos para as ciências económicas e empresariais seja importante e que a visão da realidade e os conceitos que lhe estão associados sejam devidamente tidos em conta e aplicados nestas ciências.
A Gestão do Caos
Não faz sentido manter obstinadamente um rumo quando os próprios mapas do caminho já mudaram. Contudo, algumas práticas correntes da gestão parecem propiciar essas situações. Pelo contrário, assumir que o mundo em que estamos inseridos é imprevisível, instável e sensível a pequenas causas obriga a uma reavaliação destas práticas e a um desbravar de novos caminhos. É isso que o professor Ralph Stacey tem feito com livros como 'A Fronteira do Caos' ou 'A Gestão do Caos'.
O objectivo que o autor destes livros assume é mudar o quadro mental através do qual os gestores de empresas enfrentam a realidade. Propõe assim o abandono das ilusões de que o êxito esteja associado à regularidade, de que seja possível prever o comportamento de uma organização a longo prazo e de que se possam estabelecer relações claras entre causas e efeitos. Para Stacey, o actual planeamento estratégico a médio e longo prazo é apenas uma forma de reduzir a ansiedade dos elementos da organização, podendo até os seus efeitos ser nefastos, ao prender uma organização a uma visão estratégica ultrapassada pela evolução da realidade, retirando-lhe a capacidade de criar, inovar e reagir. É preciso procurar as dinâmicas do êxito longe do equilíbrio, rejeitando um papel de mera adaptação ao ambiente ou de condução estratégica rígida.
Entende-se por estratégia o padrão das acções que determinam a longo prazo a forma e a posição da empresa em relação aos seus clientes, fornecedores, concorrentes e reguladores. Este padrão vai acabar por determinar o desempenho organizacional e, em última análise, a sobrevivência da própria empresa. O padrão das acções estratégicas é entendido, tradicionalmente, de uma forma intencional e previamente definida. A inovação que o Caos introduz é passar entender a estratégia como um conceito dinâmico, em permanente mudança, num ciclo de feedback contínuo de acções, consequências e reacções.
Mas como é possível proceder, neste quadro conceptual, à formulação estratégica nas empresas? Criando as condições para a emergência de uma nova orientação estratégica e rejeitando a rigidez do planeamento estratégico. Os gestores podem adoptar medidas para aumentar a probabilidade de uma nova estratégia emergir, desenvolvendo novas formas de controlo que permitam a criatividade, projectando o uso do poder para permitir uma aprendizagem eficaz, criando equipas auto-organizativas que explorem novas soluções, desenvolvendo múltiplas culturas que provoquem uma dialéctica permanente, apresentando desafios e correndo riscos para sustentar a procura de novas soluções, aperfeiçoando as técnicas de aprendizagem complexa de grupo para permitir a alteração e desenvolvimento de modelos mentais e criando pousio de recursos ao aceitar o preço de poder não ter retorno a curto prazo.
Naturalmente que estas medidas exigem uma gestão no "fio da navalha", que implica a criação intencional de desordem limitada e uma grande dose de confiança na auto-organização que permita a emergência da estratégia. É importante, contudo, ter presente que isto não implica o abandono dos mecanismos de controlo a curto prazo. Deverá sempre existir um sistema de informação para controlo operacional, que permita a pilotagem de curto prazo da organização.
A Gestão eficaz partirá então de novos pressupostos, para se concentrar em agendas de questões estratégicas em permanente mudança. Encarando o longo prazo de uma forma diferente, esta nova e excitante perspectiva de Gestão, mais inovadora e criativa, talvez capaz de responder à complexidade do nosso mundo.
Leituras
Para um enquadramento da Teoria do Caos e da sua evolução, são especialmente adequados os livros 'Caos' de James Gleick (Gradiva, Lisboa, 89) e 'Deus Joga aos Dados?' de Ian Stewart (Gradiva, Lisboa, 91), para uma primeira abordagem. Depois, pode querer ler a excelente obra que é 'O Acaso e o Caos' de David Ruelle, um dos protagonistas do desenvolvimento deste novo paradigma (Relógio D'Água, Lisboa, 94).
Sobre a aplicação do Caos às ciências económicas, começam a surgir cada vez mais obras. Destas, parecem-me especialmente importantes os livros de Ralph Stacey: 'A Gestão do Caos' (Dom Quixote, Lisboa, 94) e 'A Fronteira do Caos' (Bertrand, Lisboa, 95). É ainda de referir a obra 'The Economy as an Evolving Complex System' (Addison-Wesley, Redwood City, 88), a compilação das comunicações de um congresso que reuniu em Santa Fé, nos Estados Unidos, Economistas e Físicos para estudarem aplicações do Caos à Economia.

FONTE;http://www.manuelgrilo.com/rui/artigos/viagem.html

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