UM BRASILEIRO DE (SÃO PAULO CAPITAL) NA GUERRA DA UCRANIA 2014 OUTUBRO

 


Rafael Lusvarghi, o ex-legionário estrangeiro e ex-policial militar preso no dia 12 de junho em São Paulo durante protesto contra a realização da Copa do Mundo, juntou-se aos separatistas russos no leste da Ucrânia, onde comanda um pelotão. Lusvarghi, cuja foto foi estampada nas capas dos jornais, de cabelos longos e sem camisa, dominado por policiais que disparavam spray de pimenta em seu rosto, trocou mensagens com o jornal O Estado de S. Paulo nos últimos três dias, de seu alojamento militar entre as cidades de Donetsk e Lugansk.


Ele conta que chegou à região no dia 20. Demitido, ao ser preso, de seus dois empregos, de professor de inglês e assistente de helpdesk, Lusvarghi, de 30 anos, afirma que fez contato com os combatentes de etnia russa por meio de amigos, comprou a própria passagem e ingressou no Batalhão de Prisrak. "Minha manutenção aqui é humilde, é a manutenção de um soldado, não recebo nada, mas também não pago nada, durmo em um alojamento improvisado, não passo fome, mas os mantimentos são uma questão coletiva - nos últimos dias, foi uma alegria, pois conseguiram comprar três galinhas", escreveu.


"A tropa de voluntários se bate pela Nova Rússia, acima de tudo e contra o imperialismo americano", definiu Lusvarghi, usando a denominação dos separatistas russos para o leste da Ucrânia. "Meu batalhão é formado em sua maioria por voluntários russófonos da região do Donbass. Pretendo ficar aqui mesmo depois que a luta acabar. Para dizer o mínimo, vou até o fim", prevê.

"No Brasil, eu só observava o conflito de longe, já com minhas posições atuais de apoio ao Donbass", conta ele. "Consegui entrar em contato graças a uns amigos politicamente engajados. Não são recrutadores ou coisa assim, só tive a sorte de ter esses amigos que me encaminharam para um grupo especial. Eles sabiam da minha experiência militar."

Lusvarghi entrou aos 18 anos na Legião Estrangeira, onde fez cursos de paraquedismo, infiltração e comando. Diz que atuou na Europa e na África, mas não pode entrar em detalhes sobre suas missões.


Serviu na Polícia Militar de São Paulo, entre 2006 e 2008, e na do Pará, entre 2008 e 2010. Saiu como cadete. Mudou-se então para a Rússia, onde morou até o início deste ano. Tentou entrar no Exército russo, mas não foi aceito por ser estrangeiro. Fez curso de Administração em Kursk, perto da fronteira com a Ucrânia.

Ao voltar da Rússia, fez uma "visita" às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em Cartagena.

Tiros"A artilharia ucraniana atira esporadicamente", escreveu na noite de segunda-feira. "Nesse momento mesmo, já faz 4 horas que não param de martelar a uns 30 ou 40 km daqui." Lusvarghi descreveu assim um dia típico: "Alvorada às 5h, café da manhã, conferir a tropa e repassar aos superiores, treinamento, instrução, pausa para o almoço, atividades diversas, responsabilidades como comandante de grupo". Ele comanda de 6 a 11 homens.

O combatente brasileiro garante que não viu militares das Forças Armadas russas, e que a ajuda da Rússia tem sido apenas "humanitária". Ele é o único brasileiro. Há também franceses e sérvios. "Eu tenho um vínculo pessoal forte com a Rússia, que começou ainda criança, quando meu pai assistiu ao filme Taras Bulba, aquela novela de (Nikolai) Gogol."

"Na parte política, eu me oponho ao avanço imperialista na Ucrânia, às garras do grande capital financeiro internacional, a uma base da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, liderada pelos EUA) apontando mísseis para a Rússia."

Lusvarghi ficou preso durante 45 dias em São Paulo. Ficou provado que não levava consigo explosivos, mas continua alvo de processo por formação de milícia particular, resistência à prisão e associação criminosa.
Rafael Lusvarghi (à direita) posa ao lado de combatente com as bandeiras do Brasil e da ‘Nova Rússia’ - / Arquivo pessoal RIO — Descrente com a possibilidade de uma solução política para a crise ucraniana, o paulista Rafael Marques Lusvarghi, de 29 anos, uniu-se à luta de separatistas pró-Rússia no Leste da Ucrânia. É o primeiro relato de um brasileiro no conflito que elevou as tensões entre ucrania x russia.
fonte;yahoo.noticias

RIO — Descrente da possibilidade de uma solução política para a crise ucraniana, o paulista Rafael Marques Lusvarghi, de 29 anos, uniu-se à luta de separatistas pró-Rússia no Leste da Ucrânia. É o primeiro relato de um brasileiro no conflito que elevou as tensões entre Moscou e Ocidente ao maior nível desde o fim da Guerra Fria. A retórica russa é percebida logo no início da entrevista que Lusvarghi concedeu ao GLOBO por mensagem:
— Para começar, não é Ucrânia, e sim Nova Rússia — disse o brasileiro, em referência às regiões autoproclamadas independentes pelos rebeldes.
Lusvarghi ganhou os holofotes no Brasil quando foi preso durante as manifestações contra a Copa do Mundo em junho passado, por porte de explosivo, formação de milícia, resistência e associação criminosa. Chegou a ser associado aos Black Blocs, mas nega qualquer relação com o movimento. Dentro da prisão, onde ficou 45 dias, o ex-professor de inglês deu sequência ao plano de juntar-se à guerra.
— No momento em que saí, liguei para os meus amigos e disse que estava pronto.
O brasileiro desembarcou no Leste da Ucrânia há 11 dias. Integra o 155º batalhão da Brigada Prizrak (fantasma, em russo) e se instalou perto de Luhansk, uma das regiões mais afetadas pelo conflito. Quando não tem atividade militar programada, dorme num prédio abandonado devido aos bombardeios. Apesar dos ataques da artilharia ucraniana, ele não reclama.
— Acho que me sinto mais confortável no campo de batalha e com os meus camaradas aqui do que na minha própria casa. O maior problema ou risco até agora é a artilharia ucraniana, que faz chover (projéteis) umas três vezes por dia aqui nas redondezas. De qualquer maneira, ser soldado numa guerra é um risco por si só.
Apaixonado pela cultura russa, Lusvarghi mudou-se para a Rússia no fim de 2010 e tentou servir o Exército, sem êxito. Anos antes, integrara a Legião Estrangeira francesa. Foi pela Unidade Continental — organização geopolítica euroasiática — que se voluntariou e conseguiu a ponte até a Ucrânia.
A justificativa para entrar no conflito extrapola a questão russo-ucraniana e inclui, segundo ele, a luta contra o "imperialismo dos Estados Unidos e da Otan". Mesmo depois de o Parlamento em Kiev aprovar, neste mês, uma lei que estabelece três anos de autogoverno a algumas áreas separatistas, o brasileiro não acredita numa solução diplomática.
— É impossível. Minhas ideias políticas agora têm saído da ponta do meu fuzil — ressaltou.
Lusvarghi afirma que recebeu apoio da família em sua nova odisseia militar.
— Eles não querem que nada me aconteça, claro mas entendem que, se o pior acontecer, ou seja, a morte em combate, eu estaria contente, pois sou pagão. Se eu morrer aqui, será uma morte honrosa e como um homem livre.

fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/minhas-ideias-tem-saido-da-ponta-do-meu-fuzil-diz-brasileiro-que-luta-na-ucrania-1-14099937#ixzz3F8TRRnZE

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