O Disco de Nebra, ou disco celestial de Nebra, é uma placa em bronze com aplicações de ouro, datado como sendo de cerca de 1600 a.c.. Nesse artefato se crê estarem representados fenômenos astronômicos e símbolos religiosos. Esse disco é considerado como a mais antiga representação objectiva do firmamento (abóbada celeste) e, consequentemente, um dos achados arqueológicos mais importantes da nossa época.
Descrição do Disco
A placa apresenta uma forma circular com perímetro de cerca de 32 centímetros, uma espessura que varia entre os 4,5 milímetros no centro e 1,7 milímetros nas extremidades, e pesa aproximadamente 2 quilogramas. O disco é feito de bronze, uma liga metálica de cobre e estanho. Juntamente com uma reduzida percentagem de estanho de 2,5%, apresenta uma pequena quantidade de arsênio, com cerca de 0,2 %, quantidade típica para a Idade do Bronze. A placa foi aquecida diversas vezes com o objectivo de evitar rachaduras no material levando a que assumisse uma coloração entre o castanho escuro e o preto. A coloração esverdeada atual do disco deve-se a uma camada de corrosão de malaquite que surgiu só após um longo período em que esteve enterrado
Evolução dos elementos
Os detalhes feitos com ouro foram feitos gradualmente, como se fossem anexos ao design inicial. Inicialmente foi inserida uma circunferência maior à esquerda (sol ou lua-cheia), uma meia-lua à direita, e 32 pequenas circunferências (entre as quais 7 se encontram agrupadas entre a circunferência e a meia-lua) interpretadas como estrelas.
Mais tarde foram inseridos dois arcos (um na extremidade esquerda e outro na direita – orientação Leste-Oeste) que foram criados com ouro de outra proveniência. De modo a arranjar espaço para estes novos elementos um dos pequenos círculos do lado esquerdo foi movido um pouco em direcção ao centro e outros dois foram tapados do lado direito, apresentando o disco agora somente 30 dos 32 pequenos círculos iniciais. Estes dois arcos ficaram conhecidos como os Arcos do Horizonte.
A última alteração consiste no acréscimo de uma nova curva, também feita a partir de ouro de outra proveniência, colocada na base e interpretada como uma Barca solar. Esta curva apresenta no seu interior duas linhas paralelas que percorrem toda a forma, e também finas incisões nos cantos.
Primeira fase do disco |
Segunda fase do disco: acréscimo dos Arcos do Horizonte |
Terceira fase do disco: acréscimo da Barca |
Interpretações
Relativamente à interpretação, as opiniões dos especialistas divergem, sendo que não é possível afirmar com certeza qual o significado de cada elemento.
Os pequenos círculos de ouro representam possivelmente estrelas, onde o agrupamento de destaque composto por 7 círculos pode ser a representação do aglomerado estelar das Plêiades, pertencentes à constelação Touro. As outras estrelas não são identificáveis, deduzindo-se que se tratem de elementos puramente decorativos arranjados de modo a dar a ideia de céu estrelado.
As plêiades são amplamente representadas em várias civilizações e grupos indígenas ao longo da história. Vale destacar que os Maias estudaram largamente esse grupo de estrelas.
O grande círculo da esquerda é interpretado como um sol ou uma lua cheia, e a forma da direita como uma lua em quarto-crescente.
Os dois arcos laterais representarão os locais onde se levanta e põe o sol ao longo do ano. O ângulo que abarcam, de 82º, equivale ao ângulo que formam o levantamento e o ocaso solar entre os solstícios de Inverno e de Verão na latitude em que o disco foi encontrado.
A barca solar aparenta ter mais relação com a religião do que com a astronomia. É encontrada por toda a Europa em escavações arqueológicas que remetem para a Idade do Bronze e é bastante frequente nas pinturas rupestres escandinavas.
A finalidade do disco
Muitos investigadores acreditam que o disco celestial de Nebra é a mais antiga representação realista do Cosmos encontrada, talvez uma espécie de ferramenta de cálculo astronômico para determinar os tempos de plantação e de colheita. Os povos da Idade do Bronze eram sociedades rurais e, como tal, era vital que tivessem um método que lhes permitisse saber em que época do ano se encontravam (e consequentemente saber as épocas corretas para plantar e colher). Uma maneira para o conseguir tal feito era identificar a posição do Sol ao amanhecer e ao anoitecer.
O disco orientado entre os montes Mittelberg e Brocken com representação do pôr do sol. |
Início do Outono e da Primavera: pôr do sol na altura do equinócio. O monte Brocken está a 41º à direita do sol. |
Solstício de Inverno: o pôr do sol alcança o ponto mais a Sul. O monte Brocken está a 82º à direita do sol. |
Outros sugeriram que o disco representa na realidade o céu diurno e o arco inferior um arco-íris. Mas a maioria dos investigadores acredita que este terceiro arco é uma barca solar. Existem ilustrações de um disco num navio da Escandinávia da Idade do Bronze e um artefacto dinamarquês do Século XV ou XIV a. C., a Carruagem Solar de Trundholm, que mostram um cavalo puxando o Sol numa carruagem.
Carruagem Solar de Trundholm |
Mas é no Egito que encontramos a fonte principal do símbolo e a crença antiga de que uma embarcação transportava o Sol ao longo do céu noturno, do horizonte ocidental para o oriental. A sua crença era de que Rá, o deus-Sol, viajava através do céu noturno numa barca para que de manhã, ao alvorecer, o Sol pudesse renascer. Se o arco dourado no fundo do Disco Celeste de Nebra representar de fato uma barca solar que viaja de noite ao longo do céu, tratar-se-á então do primeiro indício de tal crença na Europa central.
Hipótese de que o disco de Nebra é uma falsificação
No final de 2004, o disco de Nebra viu-se embrenhado numa controvérsia. O arqueólogo alemão professor Peter Schauer, da Universidade de Regensburg, garantiu que o disco era uma falsificação moderna, e que qualquer ideia de que ele fosse um mapa celestial da Idade do Bronze não era senão "uma fantasia". O professor Schauer afirmou que a pátina verde no artefato, supostamente da Idade do Bronze, tinha sido provavelmente criada de forma artificial numa oficina utilizando "ácido, urina e um maçarico". Ele insistiu dizendo que os buracos ao redor da extremidade do disco eram demasiado perfeitos para serem antigos, devendo ter sido feitos por uma máquina relativamente moderna. A sua conclusão foi de que o objecto era um tambor de xamã siberiano do Século XIX.
Novos estudos
Os últimos exames feitos ao disco por um grupo de acadêmicos alemães, no início de 2006, permitiram chegar à conclusão de que é de fato genuíno e que funcionou como um complexo relógio astronômico para sincronização dos calendários solares e lunares. O Disco Celeste de Nebra é, assim, o mais antigo guia celeste conhecido e é, certamente, com o observatório de Goseck, o primeiro exemplo de conhecimento astronómico pormenorizado na Europa. Mas a história talvez não tenha ainda acabado. Curiosamente, Wolfhard Schlosser acredita que o disco (recentemente avaliado em oito milhões e trezentos mil euros) é a metade de um par e que o outro ainda está à espera de ser encontrado.
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