Crime organizado produz rotina de assassinatos, estupros e mineração ilegal em Michoacán Federico.
Desde 2012, uma das atividades mais comuns é a exploração clandestina de minas, com ampla contaminação dos territórios
A população civil do Estado mexicano de Michoacán que está se armando por meio das autodefesas comunitárias tem a necessidade de se livrar de uma opressão que já era insuportável. São muitas as histórias de violência, abuso, assassinato, estupros cometidos por membros dos Cavaleiros Templários, grupo criminoso surgido em 2010 de uma dissidência do cartel La Familia Michoacana.
23/06/2014
Juan José Estrada Serafin/Opera Mundi
Grupos de autodefesas comunitárias têm a tarefa de expulsar crime organizado de Michoacán, Estado aterrorizado pela ação dos Cavaleiros Templários
Um idoso do município de Coalcomán, morador armado desde maio deste ano, dá detalhes. “Chagamos a ter de pagar quotas para tudo: gado, venda do milho e para ter um carro ou uma casa. Era suportável. Depois, começaram a levar nossas filhas e nossas mulheres para estuprá-las. Se você negava, te matavam na frente delas. Então as pessoas deixaram de se opor e se armaram.”
Terra sem lei, município mexicano pega em armas para expulsar "Cavaleiros Templários"
Nas ruas do município de Coalcomán, os meninos brincam com rifles de plástico. “Meses atrás, brincavam de ser os Templários contra os militares. E todos queriam ser os Templários. Agora brincam de Comunitários contra Templários. E ninguém mais quer ser Templário.”
Contam a história de um homem de Coalcomán, cuja filha de 16 anos foi sequestrada. Quando um templário chegou a sua casa para levar a outra, de apenas 14 anos, ele o convidou a se sentar para comer, disse à filha que fosse se banhar, pegou um machado e o matou a machadadas. Escutam-se muitas histórias como essa, relatos de um povo que deixou o medo de lado e começou a reagir, também por sentir que as instituições não são confiáveis.
Juan José Estrada Serafin/Opera Mundi
População comemora ação que conseguiu retirar -- a tiros -- crime organizado do município de Pareo, em Michoacán
“Como iríamos denunciar essas coisas para a polícia, se eles mesmos estavam em conluio com os mafiosos?”, pergunta um jovem de Coalcomán que, por razões de segurança, não quer que seu nome seja publicado. “Não tínhamos saída pela via das instituições, e, quando chegou o momento, nos armamos. No começo, a própria Polícia Federal e o Exército nos deram as armas, em um jogo que ainda não entendo bem. Agora as tiramos dos templários quando acontecem enfrentamentos.”
Mineração ilegal
Uma das atividades mais comuns entre os Cavaleiros Templários no último ano foi a exploração ilegal de minas clandestinas em todo o território do Estado de Michoacán. Uma delas está situada a poucos quilômetros do município de Aquila, no território da comunidade indígena náuatle de Huizontla.
Juan José Estrada Serafin/Opera Mundi
No território da comunidade indígena náuatle de Huizontla, crime organizado atuava nas minas com conivência do poder público
Para chegar a Huizontla é necessário percorrer horas de caminho na serra. A comunidade é muito pequena, formada por cerca de 800 pessoas. Francisco é um membro da polícia comunitária. Carrega sua escopeta como alguém que não está acostumado a lidar com armas. Não tem a familiaridade de um militar, mas a rudeza de um camponês. Lembra-se de quando os Templários chegaram para tirar proveito da mina.
Juan José Estrada Serafin/Opera Mundi
Grupos de autodefesas comunitárias têm a tarefa de expulsar crime organizado de Michoacán, Estado aterrorizado pela ação dos Cavaleiros Templários
Um idoso do município de Coalcomán, morador armado desde maio deste ano, dá detalhes. “Chagamos a ter de pagar quotas para tudo: gado, venda do milho e para ter um carro ou uma casa. Era suportável. Depois, começaram a levar nossas filhas e nossas mulheres para estuprá-las. Se você negava, te matavam na frente delas. Então as pessoas deixaram de se opor e se armaram.”
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Nas ruas do município de Coalcomán, os meninos brincam com rifles de plástico. “Meses atrás, brincavam de ser os Templários contra os militares. E todos queriam ser os Templários. Agora brincam de Comunitários contra Templários. E ninguém mais quer ser Templário.”
Contam a história de um homem de Coalcomán, cuja filha de 16 anos foi sequestrada. Quando um templário chegou a sua casa para levar a outra, de apenas 14 anos, ele o convidou a se sentar para comer, disse à filha que fosse se banhar, pegou um machado e o matou a machadadas. Escutam-se muitas histórias como essa, relatos de um povo que deixou o medo de lado e começou a reagir, também por sentir que as instituições não são confiáveis.
Juan José Estrada Serafin/Opera Mundi
População comemora ação que conseguiu retirar -- a tiros -- crime organizado do município de Pareo, em Michoacán
“Como iríamos denunciar essas coisas para a polícia, se eles mesmos estavam em conluio com os mafiosos?”, pergunta um jovem de Coalcomán que, por razões de segurança, não quer que seu nome seja publicado. “Não tínhamos saída pela via das instituições, e, quando chegou o momento, nos armamos. No começo, a própria Polícia Federal e o Exército nos deram as armas, em um jogo que ainda não entendo bem. Agora as tiramos dos templários quando acontecem enfrentamentos.”
Mineração ilegal
Uma das atividades mais comuns entre os Cavaleiros Templários no último ano foi a exploração ilegal de minas clandestinas em todo o território do Estado de Michoacán. Uma delas está situada a poucos quilômetros do município de Aquila, no território da comunidade indígena náuatle de Huizontla.
Juan José Estrada Serafin/Opera Mundi
No território da comunidade indígena náuatle de Huizontla, crime organizado atuava nas minas com conivência do poder público
Para chegar a Huizontla é necessário percorrer horas de caminho na serra. A comunidade é muito pequena, formada por cerca de 800 pessoas. Francisco é um membro da polícia comunitária. Carrega sua escopeta como alguém que não está acostumado a lidar com armas. Não tem a familiaridade de um militar, mas a rudeza de um camponês. Lembra-se de quando os Templários chegaram para tirar proveito da mina.
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“Chegaram armados à nossa assembleia popular. Nos disseram que iriam explodir a mina e que, se queríamos, nos dariam 6 dólares por tonelada, mas que iriam explodir a mina de qualquer maneira. A assembleia não respondeu nada. E eles deram início às escavações. Tiraram muitas milhares de toneladas de material. Principalmente ferro, outro, prata, cobre e outros minerais, utilizando qualquer método. O “governo” sabia que estavam aqui mas faziam vista grossa”, disse.
Juan José Estrada Serafin/Opera Mundi
Autodefesas: “Como iríamos denunciar essas coisas para a polícia, se eles mesmos estavam em conluio com os mafiosos?”
Em seguida, começaram a levar o material até os municípios de Manzanillo e Lázaro Cárdenas para vender aos chineses. Quando chegaram os companheiros da autodefesa, decidimos nos armar também. Tínhamos medo porque não somos policiais, somos agricultores. Mas o que poderíamos fazer? A mina nos destruiu, envenenaram nossas fontes de água, morreram todos os chacais – camarões que eram abundantes nos nossos rios. Agora a água e as pedras cheiram a enxofre, tudo morreu.”
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Justiça rejeita pedido para reduzir indenização por vazamento de petróleo no Golfo do México Desde 2012, uma das atividades mais comuns empreendidas pelos Cavaleiros Templários é, de fato, a exploração clandestina de minas, sem se preocupar com a enorme contaminação dos territórios onde as minas são exploradas. Comunidades inteiras foram afetadas pelo uso indiscriminado de agentes tóxicos e contaminantes. A chegada as autodefesas comunitárias em Huizontla fez com que os criminosos fugissem abandonando a mina, que não tinha sido explorada pelos moradores no passado justamente para evitar a contaminação do solo.
“Chegaram armados à nossa assembleia popular. Nos disseram que iriam explodir a mina e que, se queríamos, nos dariam 6 dólares por tonelada, mas que iriam explodir a mina de qualquer maneira. A assembleia não respondeu nada. E eles deram início às escavações. Tiraram muitas milhares de toneladas de material. Principalmente ferro, outro, prata, cobre e outros minerais, utilizando qualquer método. O “governo” sabia que estavam aqui mas faziam vista grossa”, disse.
Juan José Estrada Serafin/Opera Mundi
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Em seguida, começaram a levar o material até os municípios de Manzanillo e Lázaro Cárdenas para vender aos chineses. Quando chegaram os companheiros da autodefesa, decidimos nos armar também. Tínhamos medo porque não somos policiais, somos agricultores. Mas o que poderíamos fazer? A mina nos destruiu, envenenaram nossas fontes de água, morreram todos os chacais – camarões que eram abundantes nos nossos rios. Agora a água e as pedras cheiram a enxofre, tudo morreu.”
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Juan José Estrada Serafin/Opera Mundi
Caravana de membros de grupo de proteção aos cidadãos de Pareo, em Michoacán, faz ronda após expulsão de criminosos
A questão mineira é um dos nós centrais da crise em Aquila. Ali, tem sua mina a empresa ítalo-argentina Ternium, que pertence ao grupo Techint, histórico grupo fundado em 1945 por Agostino Rocca, empresário que fez sua fortuna na Itália durante o fascismo aderindo a esse movimento desde o seu início e fundando, em 1933, a siderúrgica Dalmina, agora parte da Techint.
A Ternium explora as reservas de ferro de Aquila há 15 anos com uma permissão legal de exploração. Os Cavaleiros Templários, dentro da multiplicação de seus negócios criminosos, começaram a se dedicar à mina de Estanzuela, muito próxima a região de 383 hectares alugada pela Ternium.
Os moradores da região perceberam a exploração ilegal da mina de Estanzuela. De acordo com suas declarações, o transporte do material tirado das minas clandestinas aconteceu com a presença do Exército, que está ali para fazer a segurança da mina da Ternium. Da Estanzuela, tiravam 10 caminhões de 20 toneladas de material por dia. Cada caminhão realizava 5 viagens diárias. Os Cavaleiros Templários, que controlaram a mina e a exploração durante 2013, tiravam 1000 toneladas de material por dia, com um lucro de 413 mil dólares por semana, considerando que a venda do ferro rendia 5900 dólares por tonelada.
Juan José Estrada Serafin/Opera Mundi
Moradores de Pareo observam ação que levou ao assassinato de membros dos Cavaleiros Templários, grupo criminoso que atua em Michoacán há mais de 2 anos
A oposição dos moradores de Aquila levou à prisão, em agosto, de 41 pessoas, entre os quais o líder comunitário Agustín Villanueva, atualmente preso na cidade de Uruapan.
Dúvidas
Entretanto, existem também dúvidas e perguntas que ainda não têm resposta. Há quem pergunte o que vai acontecer depois. Um homem do município de Chinicuila, que apoiou as autodefesas desde o começo, pergunta: “quando os Templários não existirem mais e o Estado estiver limpo, porque é isso o que as autodefesas defendem, o que os policiais comunitários vão fazer?”
Juan José Estrada Serafin/Opera Mundi
Questões que ficam: “quando os Templários não existirem mais e o Estado estiver limpo, o que os policiais comunitários vão fazer?”
“O que falta é uma linha política clara, compartilhada, uma ideologia de como organizar a vida pública. Falta uma ideia de sociedade. O que está acontecendo agora é nada mais que uma reação à uma violência insuportável, e estamos apoiando essa reação, mas todos esses homens armados, que não têm um guia, que vão fazer quando o inimigo desaparecer? É o que nos preocupa, que um poder “militarizado” tome posse outra vez de nossas vidas. Em um município próximo a Chinicuila, trabalham na constituição de um conselho popular há anos, que representa a autoridade popular, a vontade e os interesses do povo e os moradores têm de lidar com o povo. Não é assim em todo lugar e não quero ver o momento em que os Templários acabem e tantos homens armados tenham de buscar outros inimigos.”
No entanto, para essa preocupação ainda não há uma resposta clara. No momento, as autodefesas representam a única oportunidade de a violência e os abusos dos Templários cessarem. Como costumam dizer por essas bandas: “um problema de cada vez”.
Fonte;opera mundi
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/33178/crime+organizado+produz+rotina+de+assassinatos+estupros+e+mineracao+ilegal+em+michoacan.shtml