O rápido aumento da temperatura da Terra, observado no período atual, representa uma ameaça mais para a humanidade em si do que para o planeta, que já passou e sobreviveu a diferentes períodos de mudanças climáticas.
A avaliação foi feita pelo climatologista Ulrich Glasmacher, professor da Universidade de Heidelberg, da Alemanha, na conferência que fez sobre aspectos geológicos e sociais das mudanças climáticas mundiais na 65ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Recife (PE).
01/08/2013
2013: O planeta teve o quinto junho mais quente já registrado na série história, segundo dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, a NOAA. A temperatura média global de junho ficou em 16,14 graus Celsius, empatado com a de junho de 2006, o que representa 0,64ºC acima da média do século 20. Apenas A Ásia Central, a Índia e a Europa Ocidental contrariaram a tendência de aquecimento (manchas vermelhas) e enfrentaram temperaturas mais frias do que o normal (manchas azuis) Leia mais NOAA Climate.gov team
Segundo o pesquisador alemão, o planeta experimenta períodos de frio seguidos de ondas de calor há cerca de 450 milhões de anos. "O Cretáceo [há mais de 100 milhões de anos], por exemplo, foi um dos períodos mais quentes da Terra nos últimos 600 milhões de anos", disse Glasmacher.
Os níveis de emissão de CO2 na atmosfera naquela época também eram muito altos, como pode ser observado em estudos com fósseis de formigas - pois é um inseto que respira o ar e, em seguida, expira o oxigênio, retendo um nível muito alto de CO em seu organismo -, explicou o pesquisador.
Há poucos dados, no entanto, sobre a atividade do Sol naquele período, que influencia a temperatura da Terra e poderia fornecer pistas de como será o clima do planeta no futuro, disse Glasmacher. "O que podemos dizer é que, toda vez que houve um período muito frio na Terra, ele foi sucedido por um período muito quente."
As mudanças climáticas pelas quais a Terra passou, contudo, não colocaram em risco a sua existência e não causaram o desaparecimento em massa de espécies, ressaltou Glasmacher.
Segundo ele, nenhuma das extinções em massa ocorridas no planeta foi causada por mudanças climáticas, mas sim por vulcões, mudanças nas placas tectônicas, meteoritos ou cometas. E, em todos os casos, o planeta sobreviveu.
"Qualquer cenário previsto como fatal para o planeta é mentiroso e tem o objetivo de causar medo. Por mais devastador que as mudanças climáticas possam ser, a vida e o planeta vão sobreviver sem nós, humanos", disse.
"O planeta fez isso no passado, quando os dinossauros foram extintos, e a vida na Terra continuou nos milhões de anos seguintes. A questão, agora, é se a humanidade conseguirá sobreviver às mudanças climáticas globais", ponderou.
Ampliar
Todas as espécies vão sobreviver ao aumento da temperatura? Mito
Ecologistas da Universidade de Umeå, na Suécia, mostram que alguns mamíferos, como lemingue (foto), raposa do Ártico e urso polar, não conseguirão se adaptar ao aumento de temperatura como a maioria dos animais e poderão ser extintos até 2080. Mas não são apenas as espécies do Ártico que correm risco de desaparecer do planeta: a ONU ameaça colocar na lista de patrimônios ameaçados a Grande Barreira de Corais, região da Austrália que abriga 400 tipos de coral, 240 tipos de aves e 1.500 de peixes, devido à industrialização australiana Leia mais Olivier Gilg/AFP
Risco de extinção
Na avaliação de Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o risco de as mudanças climáticas causarem o desaparecimento do homem no planeta é, de fato, muito pequeno, uma vez que os humanos desenvolveram capacidades cognitivas que os tornaram uma das espécies mais adaptadas e adaptáveis da Terra.
Além disso, é muito improvável que a concentração de oxigênio no planeta seja modificada nos próximos milhões de anos por efeito das mudanças climáticas, a ponto de ameaçar a vida no planeta.
O problema é que as plantas só conseguem realizar fotossíntese sob uma temperatura de até 48 graus Celsius. Se a temperatura média continental atingisse essa faixa, haveria o risco de extinção em massa de espécies por causa da quebra da cadeia alimentar, ressalvou Nobre, que foi o apresentador da conferência de Glasmacher.
"Não que a temperatura média da Terra vá chegar a mais de 40 graus. Mas, se isso acontecesse, haveria o risco de interromper a fotossíntese das plantas e, com isso, o planeta seria muito diferente de hoje, com menos vida e mais desértico - ainda que plantas do deserto façam fotossíntese em um intervalo muito curto de tempo", disse o pesquisador.
Segundo Nobre, a maior preocupação sobre os possíveis impactos do aquecimento global observado no período antropocênico atual, contudo, não está relacionada ao valor final da temperatura suportada pelas espécies (48ºC), mas à velocidade com que a mudança está ocorrendo, o que poderá dificultar a adaptação de diversas espécies.
"Ter uma variação de cinco graus [Celsius] na temperatura em 200 anos, como acontece agora no Antropoceno, é algo raro e não ocorria há muito tempo. Muitas espécies não têm condições de se adaptar a uma mudança climática tão rápida", afirmou.
"Se a temperatura levasse um milhão de anos para subir cinco graus, a extinção de espécies seria pequena. Já se isso acontecer em um período entre 50 e 100 anos a extinção será muito grande. E, se ocorrer em um prazo de 30 anos, 40% das espécies seriam extintas - o que, talvez, não possa ser considerada uma extinção em massa, mas é uma perturbação de uma dimensão que só meteoritos e vulcanismos causaram no passado", comparou.
fonte;uol
Geen opmerkings nie:
Plaas 'n opmerking