Vladimir Putin volta à Presidência russa mostrando sinais de que pretende intensificar as relações com potências regionais asiáticas em detrimento dos elos com os EUA, em fase de esfriamento.
O diagnóstico é do analista iraniano Hassan Beheshtipour, professor na Universidade Shahid Beheshti, em Teerã.
Mahmoud Ahmadinejad (esq.) e Vladimir Putin, presidentes do Irã e da Rússia, conversam em Pequim, China
08/06/2012
Em entrevista à Folha, Beheshtipour disse que o Irã deve se beneficiar com o retorno de Putin e com a derrota de Nicolas Sarkozy na eleição francesa.
Folha - A Rússia está se afastando dos EUA?
Hassan Beheshtipour - Putin deixou claro que uma de suas prioridades será a política externa. Os planos incluem uma mudança da relação com os EUA. Putin não foi à recente cúpula do G8 e mandou em seu lugar [o premiê Dmitri] Medvedev. Isso foi uma mensagem forte direcionada a [Barack] Obama.
Putin não quer ser antiamericano nem reviver a Guerra Fria. Mas ele rejeita a ideia de um mundo unipolar e quer que a Rússia seja tratada em pé de igualdade.
Mas acho que Putin só definirá os contornos dos laços com Washington depois da eleição americana, em novembro.
De qualquer maneira, parece claro que a Rússia já está intensificando suas relações com China, Índia e, talvez, o Irã. Moscou aposta nesse grupo por achar que pode tirar proveito de um esforço conjunto no cenário internacional.
A relação Rússia-EUA havia esquentado sob Medvedev?
Podemos dividir o governo de Medvedev em dois períodos. Em 2008 Obama chegou ao poder prometendo iniciar uma nova era na parceria EUA-Rússia. O clima melhorou muito nesta época. Mas a partir de 2010, o avanço do escudo antimísseis americano [na Europa do Leste] afetou a relação. Desde a Conferência de Lisboa, naquele ano, a Rússia considera o escudo uma ameaça contra si própria. Putin será mais linha dura neste tema.
A volta de Putin favorece o Irã?
A relação entre Irã e Rússia vinha sendo pautada nos últimos anos pela relação entre Rússia e EUA e ao mesmo tempo pela relação entre Irã e EUA. Enquanto Moscou e Teerã não se libertarem das influências externas, não haverá grandes mudanças.
Isso dito, a rejeição da Rússia às sanções unilaterais ao Irã, como as que afetam o Banco Central e o setor de energia, é algo importante para Teerã.
Os dois países também são muito apegados à cooperação no caso da Síria, assunto cada mais efetivo na relação.
Putin avalia que é o do interesse da Rússia iniciar uma nova era de cooperação com o Irã.
A derrota de Sarkozy na eleição francesa também favorece o Irã?
Sarkozy é visto no Irã como o pior presidente francês na história da relação bilateral. Ele foi um dos primeiros líderes a ameaçar atacar o Irã e aproximou-se dos dois principais inimigos do Irã: Israel e EUA.
Mas a França tem uma longa tradição de interação cultural e econômica com o Irã. Há momentos muito felizes na relação bilateral, como na época em que a França acolheu o imã Khomeini, então perseguido pelo regime do xá. Isso cravou uma imagem positiva da França na cabeça de muitos iranianos. Mas também há ressentimento pelo apoio de Paris ao Iraque de Saddam Hussein na invasão do Irã.
É claro que o Irã está feliz com a saída de Sarkozy, mas tampouco há muita empolgação com Hollande, já que foi o governo socialista de Mitterrand que apoiou Saddam.
Acho que a recente viagem do ex-premiê Michel Rocard a Teerã pode sinalizar que o novo governo francês está avaliando melhorar a relação com o Irã.
fonte;folha
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