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ILUSTRAÇÃO DE RICHARD MIA |
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Os Estados Unidos foram uma potência na
produção de manufaturados. Nos últimos 25 anos renunciamos a essa
liderança, em grande parte porque tomamos uma decisão – consciente ou
inconscientemente – de que os setores financeiro e de serviços são
suficientes para manter nossa economia. Mas não são. Empregados no setor
de serviços são mal remunerados. A indústria financeira não produz nada
de valor e, portanto, é incapaz de manter o padrão de vida do país.
O
destino da manufatura está, de alguma forma, ligado à nossa perícia nas
ciências físicas. Nos anos 60 e 70 a computação de alto desempenho
(HPC, na sigla em inglês) desenvolvida nos laboratórios nacionais abriu
caminho para o setor de manufaturados que agora alimenta boa parte da
inovação na qual se baseiam nossas empresas comerciais mais
bem-sucedidas. Mas também estamos perdendo liderança nas ciências
físicas. Com o cancelamento do Supercolisor Supercondutor nos anos 90, a
supremacia americana na física de partículas foi extinta. A decisão da
Nasa de atrasar e provavelmente acabar abandonando o Telescópio de
Pesquisa no Infravermelho de Grande Campo poderá ter os mesmo reflexos
na cosmologia.
Felizmente, a liderança na computação de alto
desempenho ainda permanece. HPC é a computação mais avançada que os
físicos utilizam para modelar a dinâmica de buracos negros, que os
meteorologistas empregam para modelar o clima e que os engenheiros
aplicam para simular a combustão. Essa excelência de conhecimento pode
ser também nossa melhor chance de resgatar a indústria manufatureira
nacional. Se conseguirmos transferi-la para engenheiros de pequenas
empresas, isso poderá dotar o setor de impulso suficiente para competir
com os custos de mão de obra barata de países do outro lado do mundo.
Já
sabemos como as grandes empresas utilizam a HPC. Quando a Boeing
construiu o 767 nos anos 80, testou 77 protótipos de asa no túnel de
vento. Quando ela construiu o 787 em 2005, testou somente 11. No futuro,
a Boeing planeja reduzir ainda mais esse número até chegar a três. A
modelagem e a simulação da HPC têm se tornado ferramentas igualmente
poderosas no projeto de linhas de montagem e de processos de manufatura
numa vasta diversidade de campos – grandes produtores como Caterpillar,
General Electric, Goodyear e Procter & Gamble utilizam-nas
rotineiramente. Pequenas empresas também poderiam ter se beneficiado
dessas ferramentas se tivessem tido acesso a elas.
Percebi pela
primeira vez o verdadeiro potencial da HPC para ajudar pequenos
produtores, quando participei da equipe de transição do governo Obama.
Trabalhando com o Conselho de Competitividade identificamos falta de
software, custo de entrada e falta de competências como os principais
obstáculos ao uso da HPC por pequenos produtores. Para ajudar,
propusemos uma parceria entre governo, empresários e universidades. O
resultado foi o Consórcio Digital Nacional de Engenharia e Produção
(NDEMC, na sigla em inglês), um programa piloto criado pelo Conselho e
pelo governo federal. Recentemente, o programa ofereceu recursos da HPC a
várias empresas, incluindo a Jeco Plastic Products. Essa empresa com 25
empregados em Plainfield, Indiana, produz espátulas plásticas para
embalagem de peças de automóvel. As espátulas são uma alternativa mais
barata para as versões de aço, mais pesadas e sujeitas à ferrugem.
Quando a Jeco cria um novo produto, seus engenheiros constroem um
protótipo que é testado em laboratório, para analisar seu desempenho sob
a tensão que provavelmente enfrentarão em uso. Em dezembro de 2011,
porém, os engenheiros da Jeco depararam com a oportunidade de ter uma
amostra da excelência do conhecimento na Purdue University. Eles
desenvolveram simulações de uma espátula projetada para uma companhia
automotiva alemã, com testes no hardware do Centro de Supercomputação de
Ohio, em Columbus. Como resultado, a Jeco descartou completamente o
processo de tentativa e erro, chegando a um projeto em apenas algumas
horas de trabalho computacional.
Várias outras pequenas empresas
poderiam tirar proveito de vantagens como essa. A meta da NDEMC é
encontrar os melhores modelos de negócio para fornecer a HPC a essas
empresas e estender a iniciativa para todo o país. Atualmente, pequenos
empresários estão nas mesmas condições em que estavam os produtores
rurais no começo do século 20 – muitos não sabiam como a cultura em
contorno de encostas, o rodízio de lavouras e os fertilizantes poderiam
aumentar a produtividade de suas terras. Quando o serviço de extensão
agrícola, juntamente com universidades que recebem recursos federais,
tornou praticável o quesito competência, a produtividade agrícola
disparou. Uma revolução similar poderia estar ao alcance de pequenos
produtores, se pudéssemos colocar a tecnologia de supercomputadores nas
mãos de seus engenheiros |
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